Atirámos um homem do penhasco abaixo,
Toda a aldeia reunida no adro;
corremos sobre ele aos gritos
fizemo-lo cair de grande altura.
Toda a aldeia reunida no adro;
corremos sobre ele aos gritos
fizemo-lo cair de grande altura.
O padre disse que agora, sim, é
que começa a verdadeira vida
e eu pensei com muita força e muita fé:
mete a verdadeira vida no cu.
Acordo a meio da noite com uivos das pessoas sãs.
Prendem um homem no manicómio
atam-no à cama, enfiam-lhe comida
pela goela abaixo, engordam-lhe o fígado.
Ele tinha um anjo dentro da cabeça
sempre a lavá-lo, a voá-lo muito
para lá das nuvens, repuxava-lhe os fios
forçava-os a uns esgares, uns dizeres obscenos.
Quando o deixava a planar a meia altura
a uns quinhentos metros, digamos, uma
corrente inesgotável de lenços coloridos
saia-lhe da cartola, com as músicas mais belas
Tanto medo da loucura,
tantas verdades incómodas ali à mostra,
tantos segredos insuportáveis.
Vamos estabilizá-lo, disseram.
Quero escapar, morrer,
arder-vos por entre os dedos
ó boas pessoas, ó sãos de espírito,
ó assassinos, adeus.
João Paulo Esteves da Silva, in Doutor Tristeza, Mia Soave, 2015.
Sem comentários:
Enviar um comentário