O novo flâneur urbano
herdeiro
do velho alegorista baudelariano
deambula
pelas grandes superfícies
do consumo
onde se exibem
da produção
os ruidosos traços
herdeiro
do velho alegorista baudelariano
deambula
pelas grandes superfícies
do consumo
onde se exibem
da produção
os ruidosos traços
Aí
tudo está encenado
e entre a carência e a oferta
personagens principais
deste espectáculo
o novo flâneur
contempla
e depois sucumbe
no mercantil mar iluminado
onde cintila
a avidez jamais satisfeita
do mais querer
Porque algo sempre falta
e o desejo
tudo dilacera
numa batalha
de antemão perdida
em que o sangue-frio
não serve p´ra nada.
II
O novo flâneur
navega
num informático oceano
feito de simulacros
de imaginadas redes de sentido
Olha o écran
o novo espelho
que figura e desfigura
o seu medo maior
Onde é que há
um espelho que tranquilize?
A imagem é só ela:
uma constelação de impasses
um palimpsesto
feito de interfaces
in Itinerários, Quasi Edições, 2003.