uma bóia é tudo o que precisamos
a neblina à distância de um palmo
uma paisagem de escarpas e montes
rebentam ondas e há ainda quem se atreva
de mim, de ti e do que nos atormenta
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"Pelas Sombras", 2010 Catarina Mourão |
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Imagem daqui: https://revistadeguste.com/ |
in Locomografia, Editora Atelier Produção, 2009.
João Miguel Tavares, in Público, 17 de Abril de 2025.
"José Gil tem razão quando nos diz, de uma forma elegante, que nos ficou a cobardia, dos tempos do obscurantismo, temos muita dificuldade em expressarmos livremente o que sentimos. Mas já passaram 50 anos e várias gerações. Não diz, mas digo eu, que preferem mostrar a sua insatisfação através de radicalismos anónimos, expressos, cada vez mais, nos atos eleitorais."
José Gameiro, in Amorfos Felizes, Expresso, 11 de Julho de 2025.
Se foi por acaso não saberei conferir
Antes assim uma
descoberta inusitada
No dealbar do estio esta
paisagem
Tão singela e tosca nas
suas manifestações
A interioridade de terras
acidentadas
Beleza e colorido das
papoilas e hidrângeas
As móveis nuvens e os
verdes tão distintos
Raios a incidir na feição
dos plátanos
Benditas chuvas que tombam
sobre os campos
Ampliam árvores e o vigor
das folhagens
Rasgam muros de sombra no
desenho das fábricas
Até ao eclodir do
marítimo horizonte
Emanuel Jorge Botelho e Urbano in a vida e uma manhã, Publiçor, 2010.
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Fotografia de Carlos Olyveira |
Todos os anos, quando a permanência no interior das casas se torna insustentável, dou por mim a imaginar a programação de sessões de cinema ao ar livre, isto é, a propor à minha freguesia de bairro uma selecção de filmes que primem pela qualidade narrativa, uma banda sonora irrepreensível, boa cadência e ritmo cinematográfico. É claro que não posso descurar que haja uma boa amplificação do som e que estejamos todos bem sentados. Assim, será uma boa sessão de cinema ao ar livre em que nada possa ficar de fora. Então, a sessão inaugural teria o filme de Emir Kusturica, Gato Preto, Gato Branco, realizado em 1998. Pela película andam ciganos que habitam nas margens do Danúbio, os seus negócios mal afamados com os russos, desvios de comboios com gasolina de Belgrado com destino à Turquia, uma atiradora furtiva que atira aos barcos sobre as águas e ainda Dadan, o patriarca da comunidade que possui um harém. Enfim, a desbunda típica dos filmes de Kusturica com muita música e charangas à mistura.
"O problema não é a escassez de camas ou profissionais. É a ausência de políticas públicas com rosto humano. Falta-nos saúde de proximidade, apoio social continuado, articulação entre as instituições. As autarquias sabem quem são, onde vivem, o que precisam, mas não têm meios para intervir. O Estado empurra para o terceiro sector, que responde como pode, muitas vezes com boa vontade, mas com meios limitados e serviços inconsistentes. A caridade não pode substituir o que é - deve ser - público."
João Mendes Coelho, médico-psiquiatra, in Açoriano Oriental, dia 29 de Junho de 2025.
in A Nuvem Prateada das Pessoas Graves, Quasi Edições, Março de 2005.
in O Virgem Negra, Assírio&Alvim, 1989
in O Poeta Nu, 2014.
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Cartaz daqui: http://www.cinemadg.com |
Arcueil era o o bairro parisiense onde vivia Erik Satie, o músico peripatético da transição do século XIX para o século XX. A música dele assemelha-se a um passeio contemplativo e filosófico constante, aproximando-se do ritmo humano nas caminhadas e paragens, sendo esta uma actividade preferida do músico para se inspirar enquanto transportava o seu guarda-chuva, fizesse sol ou chuva, talvez um da centena de exemplares que deixou como herança na sua modesta casa.
Joana Gama, pianista portuguesa, dedicou-lhe, aliás, continua a render-lhe concertos vários e diferentes evocações carregadas de afinco e solenidade. Nste disco, editado pela Mia Soave, a pianista coloca Satie a dialogar com outros autores da sua estima: John Cage, Morton Feldman, Vítor Rua, Marco Franco ou Frederico Pompou. A acompanhar as gravações há ainda os desenhos e as gravuras de Ricardo Jacinto, André Laranjinha, Vítor Rua, Nuno Moura, Tiago Cutileiro e Marco Franco. Um disco para ouvir e sentir enquanto as flores rebentam e os árvores se enchem de pássaros ao fim da tarde. Boa audição.
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Daqui: https://www.filmcenter.cz |
"Velejador açoriano que terminou volta ao mundo em iate durante sete anos desolado por perceceber que António Costa não fez as reformas estruturais.
O velejador Norberto Serpa partiu numa volta ao mundo quando o primeiro ministro António Costa tinha apoio parlamentar de toda a esquerda, tendo o açoriano deixado o seu país em boas mãos, apenas para descobrir esta semana, ao regressar de sete anos de viagem, que Portugal está pior, tendo mesmo dado boleia no veleiro a uma grávida dos Açores para ir ter o filho a uma maternidade pública de Lisboa. Já um aviador açoriano que deu a volta ao mundo durante sete anos ficou espantado ao descobrir que não podia aterrar nos novos aeroportos internacionais de Lisboa do Montijo, Moita e Alcochete."
V.E. in Inimigo Público, Jornal Expresso, 30 de Maio de 2025.
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Capa da Yuzin Mês de Junho, 2025 |
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Homem Pássaro, 2023 |
Nota: As fotografias encontram-se expostas no Museu Carlos Machado (Núcleo de Santo André) e na Galeria Fonseca e Macedo.
"Uma zebra pode fugir de um leão e, minutos depois, voltar à normalidade."
Daqui: https://www.publico.pt/2025/05/19/azul/noticia/natureza-lida-stress-2132098