sábado, 27 de janeiro de 2024

Ladrões de Bicicletas de Vittorio di Sica

 

Da Arte

       Não há meio mais seguro para fugir do mundo do que a arte, e não há forma mais firme e mais segura de se unir a ele do que a arte.
Johann Goethe 

Música para Dias Invernais

-Crush - Cigarrettes After Sex, 2019 - Cigarrettes After Sex
-Fullmoon - Async, 2017- Ryuichi Sakamoto
-The Gypsy Faerie Queen - Negative Capability, 2019 - Marianne Faithfull com Nick Cave
-Avalanche - Songs for Love and Hate, 1970 - Leonard Cohen
-Wild is the WindStation to Station,1976 - David  Bowie
 -Perfect Day - Transformer, 1973 - Lou Reed
-Pale Blue Eyes - White Light White Heat,1969 - The Velvet Underground
-Mundo do Avesso - Rua das Marimbas, nº7, 2020 - Garota Não
-Winter - Shock of Daylight& Heads and Hearts, 1996 - The Sound
-Cold Swedish Winter - When I Said I Wanted To Be Your Dog, 2004 - Jens Lekman

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A Filosofia: O que é?

        “Naturalmente, a vida põe-nos problemas. Os problemas estorvam a nossa vida. São obstáculos com que nos deparamos. Têm de ser resolvidos ou removidos de qualquer modo. Os gregos chamam «aporias» aos problemas com que temos de lidar, sejam elas de índole quotidiana, sejam eles altamente especializados. Uma aporia é uma dificuldade que cria uma situação difícil que nos deixa em apuros. Pode ser sentida com um carácter de maior ou menor urgência que inste à sua resolução. A filosofia naturalmente existente na nossa vida lida com toda a espécie de aporias e problemas com que nos deparamos. É a ignorância que cria força de pressão para a resolução dos problemas particulares que temos de resolver. Os problemas que se nos põe são de toda a espécie, origem e proveniência.

         Ao surgirem, são dinâmicos. Temos de resolvê-los. É o que acontece com as avarias elétricas em casa, os problemas com a canalização, o barulho, a ligação à Internet, os problemas de índole pessoal, de natureza política e social. Quanto à gravidade com que  nos surgem e a urgência da sua resolução, a própria avaliação pode variar. Chamamos os técnicos para os resolver ou tentamos nós próprios resolver esses problemas. É assim também que o médico faz o diagnóstico para identificar, a partir dos sintomas, a causa de uma doença ou manda fazer análises de rotina, porque as doenças podem esconder-se e não se revelar. O mesmo se passa com as situações de conflito. Nem sempre se declaram logo. As situações polémicas ou de combate trazem o estratego para fazer o diagnóstico e avaliar a situação. Quem avalia a natureza da ocasião oferecida? Como aproveitar a oportunidade para passar de uma situação prejudicial para uma situação vantajosa? Como evitar uma desvantagem? Quando atacar e bater em retirada? Quanto tempo se pode resistir e quando se deve desistir? O mesmo se passa com a nossa afetividade e com o modo como nos comportamos emocional e afetivamente com os outros, aos quais estamos ligados afectiva e profissionalmente. A nossa relação com amigos e família, com as pessoas que amamos e que são protagonistas nas nossas vidas, traz consigo um conjunto de problemas que se nos põe. Obrigam-nos a ter conversas sérias, a resolver crises que a vida cria de forma espontânea e primária. Percebemos o sofrimento que causam certas atitudes e palavras ditas, e também que fazemos sofrer os outros com as nossas atitudes, palavras, actos e omissões. Mas pode ser também a tentativa de resolver coisas simples como o que vai ser o jantar, qual o caminho mais rápido a tomar em determinada direcção, como escapar ao trânsito, etc. Há sempre um diagnóstico da situação que irrompe e temos de resolver porque é um obstáculo, um estorvo, interrompe o curso normal da vida.”

in “O Que é a Filosofia?”, António Castro Caeiro, Edições Tinta da China

domingo, 14 de janeiro de 2024

Da Insularidade

              "Não basta dizer que somos, nem comemorar que somos. A maioria esmagadora dos açorianos não conhece as outras ilhas e, por isso, o seu mundo é um mundo tendencialmente insulado e isolado, apesar de os Açores serem, de todos os que conheço ou já ouvi falar, porventura o arquipélago mais penetrado e influenciado pelo mundo em volta, ou seja, o menos isolado e insulado. É uma contradição estranha, convenhamos."

Francisco Maduro Dias, in Açoriano Oriental, 30 de Dezembro de 2023.

As noites entre dois domingos

O
diário que a avó pedia na tabacaria
durante algum tempo ofereceu talheres 
para coleccionar. Facas 
garfos 
colheres a cada dia entrava outra 
peça de metal somando para um serviço (nem
pedido nem
usado) que há alguns anos daria para um 
útil enxoval. Agora ela é sozinha 
(numa cozinha 
equipada ) frente a
uma mesa despida onde pela tarde folheia 
as novidades da 
crise. «À noite é que custa mais.» Imagino-a 
a recortar a colecção de receitas 
(que a revista vai servindo em fascículos 
ao domingo) e a 
pôr a mesa para dois 
para ela e para a Solidão que a mudou para ali
quando ela ficou sozinha
como um verme que rói casa dentro de 
uma bela maçã 

                      João Luís Barreto Guimarães, in MovimentoQuetzal Editores, 2020.

Dia

Descansa do teu longevo dia 
Intui e prolonga o silêncio
Amanhã escalarás de novo 
a montanha  

sábado, 6 de janeiro de 2024

Botas Cá Fora

Tânia Neves dos Santos

Fernando Matos Silva na Cinemateca

in Público, dia 4 de Janeiro de 2024
       Fernando Matos Silva será alvo de uma retrospectiva do seu trabalho na Cinemateca durante o mês que agora começa. Momento, pois, para vermos obras como "Mal Amado"(1974), e todos os seus  trabalhos condensados num título sugestivo: "Fernando Matos Silva -O Cinema a Fazer Realidade". 
       Durante o mês de Janeiro serão exibidas também as suas curta-metragens realizadas nas décadas de 60 e 70, os seus documentários realizados com a sua Cinequipa ou ainda filmes que colaborou como assistente de realização, tais como "Belarmino", de Fernando Lopes, ou "Mudar de Vida", de Paulo Rocha.
         Fernando Matos Silva nasceu em Vila Viçosa, em 1940, tendo estudado em Londres na década de 60 e regressou a Portugal para assinar filmes publicitários e acompanhar com imagens e documentos fílmicos o processo democrático em curso.
        Recorde-se, pois, a presença do realizador numa sessão do Plano Nacional de Cinema da Escola Secundária da Ribeira Grande, que ocorreu no Arquipélago, Centro de Artes Contemporâneas, em Junho de 2022, onde apresentou o seu documentário "Lúcia e Conceição", filme realizado em 1975 sobre a apanha do chá no lugar da Gorreana, Ribeira Grande, Açores. 

Samuel Beckett

Samuel Beckett seated, and smooking, 1970
Giséle Freund
in Revista Electra nº22

 

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Poemas para os 50

 13 de Junho de 1974

quebrado o espanto 
o medo o ódio a mágoa-mor
as espingardas floriram cravos 
na madrugada de um tempo a vir
pela memória dos teus filhos mortos
-que pátria povo em construção -
a paz será o fruto das manhãs 
mangal florido a penetrar dezembro

Urbano Bettencourt in "Antes que o Mar se Retire", Companhia das Ilhas, 2023.

O Dinheiro de Roberto Bolaño

 Trabalhei 16 horas no parque de campismo e às 8
da manhã tinha 2.200 pesetas apesar de ter ganho
2.400 não sei o que fiz às outras 200
acho que comi e bebi cervejas e café com
leite no bar de Pepe García dentro do
parque de campismo e choveu no domingo à noite e durante
a manhã de segunda-feira às 10 fui ter com
Javier Lentini e cobrei 2.500 pesetas por uma
antologia de poesia jovem mexicana que 
aparecerá na sua revista e já tinha mais de 
4000 pesetas e decidi comprar um par de 
cassetes virgens para gravar Cecil Taylor 
Azimuth Dizzy Gilepsie Charles Mingus
e comer um bom bife de porco
com tomate e cebola e ovos estrelados e escrever 
este poema ou esta nota que é como um pulmão 
ou uma boca temporária que diz que estou 
feliz porque há muito tempo que não tinha 
tanto dinheiro no bolso

Tradução: André Caramuru Aubert.

Canções para os 50

 Serenata - José Miguel Wisnik