sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Облако, Облако...

Fotografia Pessoal

Os Olhos de um Grego

“Como poderemos ver hoje a Lua com os olhos de um grego? Foi uma experiência que eu mesmo fiz, na minha juventude, durante a primeira viagem à Grécia. Navegava de noite, de ilha em ilha; estendido no convés, olhava o céu por cima de mim, onde a Lua brilhava, luminoso rosto nocturno que projectava o seu claro reflexo, imóvel, oscilando sobre a obscuridade do mar. Sentia-me deslumbrado, fascinado por aquele suave e estranho brilho que banhava as ondas adormecidas; sentia-me emocionado como se tratasse de uma presença feminina, próxima e simultaneamente longínqua, familiar mas inacessível, cujo esplendor tivesse vindo visitar a obscuridade da noite. O que estou a ver é Selene, dizia para comigo, nocturna, misteriosa e brilhante. Muitos anos depois, ao ver no ecrã do meu televisor as imagens do primeiro astronauta lunar saltitando pesadamente, com o seu escafandro de cosmonauta, no espaço triste de uma desolada periferia, à impressão de sacrilégio que senti hoje juntou-se o sentimento doloroso de uma ferida que não poderia ser curada: o meu neto, que como toda a gente viu nessas imagens, já não será capaz de ver a lua como eu a vi: com os olhos de um grego. A palavra Selene tornou-se uma referência meramente erudita: a Lua, tal como surge hoje no céu, já não responde a esse nome.”

in “O Homem Grego”, de Jean-Pierre Vernant, Editorial Presença

Chmura, Chmura...

Fotografia André Almeida