"Em sociedades onde a
ameaça é maior, a expectativa é menor e as pessoas não têm tanto medo. O medo é
psicológico, somos muito medrosos. Agora andamos cheios de medo dos imigrantes.
Têm o mesmo papel que teve os toxicodependentes dos anos 1990, quando andei nos
bairros. É o papel do diabo à solta, que veio provocar caos na nossa ordem. Temos
sempre que polarizar numa figura qualquer algo que não sabemos resolver que é o
caos. Desde o nosso caos interno ao caos social. O nosso caos interno
resolve-se projectando as nossas paranoias em quem temos à nossa volta: no
filho, na mulher, no sogro, no patrão, na empregada doméstica...a projecção
social das frustrações de uma sociedade que não funciona bem, fazemo-la na
figura do outro. Hoje, o outro é o
migrante que vem de longe. Não o migrante europeu, não é o norte americano. Não
é o sueco que compra casa no Algarve. São aqueles indivíduos que vem para
aí e que, coitados, têm de sobreviver
com os os restos que sobram para eles."
Luís Fernandes, entrevista de João Pacheco, Revista do Expresso, 3 de Junho de 2025.
Luís Fernandes, entrevista de João Pacheco, Revista do Expresso, 3 de Junho de 2025.