sábado, 22 de março de 2025

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Mais do que uma vez 
atravessei a Primavera 
com os olhos fechados 

Jorge Sousa Braga, in O Poeta Nu (Poesia Reunida) Assírio&Alvim,2007

No Meu País de Sebastião Alba

No meu país
dardejado de sol e da caca dos gaios
só há estâncias
(de veraneio) na poesia
Nossos lábios
a um metro e setenta e tal
do chão amarelecido
dos símbolos
abrem para fora
por dois gomos de frio
Nossos lábios outonais, digo,
outonais doze meses
No entanto
à flor do possível
geografia
um frémito cinde
as estações do ano

A Constante Cosmológica do Amor

 A flor que pela Primavera se abre para logo fenecer 
o olho múltiplo da mosca pousado nas tripas
do soldado escentrado por uma mina
a estrada que saindo de Azambuja passa em Vale do Paraíso
a fome do leão no pescoço da gazela
um berçário de estrelas na nebulosa de Andrómeda 
as juras dos namorados numa ponte de Paris 
o poema quase perfeito que escrevi num dia de sol
-tudo o que existe pelo amor de existir 
e une fenómenos com cauda de cometa
é da ordem dos segredos e pertence à classe do silêncio

Inútil procurar a fonte dessa evidência numa metáfora

Paulo Ramalho, in Órbitas Elípticas em Torno do Silêncio, Letras Lavadas, 2024. 

Artistas na Fábrica

     

       "Os miúdos eram enrugados, eram enrugados como eu hoje...Miúdos muito enrugados...Porque eles faziam também a desenforma. A desenforma tirava-lhes a água do corpo, desidratavam...Gostei muito daqueles miúdos..."

Tereza Arriaga, 2005

       in "Artistas na Fábrica",  exposição patente no M(i)mo – Museu da Imagem em Movimento, em Leiria, aberta ao público até ao final de Junho deste ano. 

*Elas estão presentes aqui e agora

           "Trabalho": Dá prioridade a uma iconografia feminina marcada pela expressão do esforço ou pelo desgaste que tal esforço produz: este núcleo não esconde a relação da mulher com a maternidade, incluindo ainda o raro registo das vítimas do trabalho infantil que Tereza Arriaga (1915-2013) desenvolveu na Marinha Grande em 1945, com retratos dos meninos operários da indústria vidreira." 

          in"Onde Estão Elas? - Mulheres Artistas no Museu do Neorealismo", *artigo de José Luís Porfírio, Revista Expresso, dia 21 de Março de 2024.