
Lourdes Castro: Existe Luz na Sombra
Os sábados são
propícios à conversa, à escuta, e é Denise Pollini que vai soltando exemplos de
projetos artísticos com participação pública, tais como os “Domingos de Criação”, em plena ditadura
militar brasileira no final dos anos 60, por Frederico Morais, à altura crítico
e curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Fomos também passando os
olhos pelo trabalho de Elvira Leite nos idos anos 70, no largo de Pena Ventosa,
no Bairro da Sé, no Porto, com fotografias de crianças e jovens a desenhar e
pintar nas ruas ou construir carrinhos de rolamentos ou ainda a performance The Crystal Quilt (1985-1987), da
artista Suzanne Lacy, para nos lembrar que os idosos existem e que nem sempre a
arte foi tão institucional. Ela trouxe, por isso, o conceito de Comuns, em que fala da partilha de
recursos e da criação colaborativa de conhecimento, tão necessária nos dias que
correm.
Uma manhã que logo
daria lugar à tarde com a inauguração, nos vários espaços do Arquipélago, Centro
de Artes Contemporâneas, da exposição “Lourdes Castro: Existe luz na Sombra”,
com a curadoria de Márcia de Sousa. É uma mostra extensa da artista madeirense
que nos deixou em Janeiro de 2022, não faltando ali praticamente nada sobre a vida e obra de
uma mulher talentosa que marcaria de forma indelével a arte portuguesa do século XX. É uma
exposição vibrante – como são belas as capas da revista XWY ou as serigrafias
do seu herbário! – ou ainda todas as suas frases e bolbos espalhados pelas celas
daquele espaço. Certamente que um dia não chegará para nos abrigar de tanta
sombra!
