segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Como Navios Tristes que partem ao Fim da Tarde (1)

Sabia que ele corria sempre para qualquer lado, parecia um pássaro ferido. Era, à altura, professor de Matemática. Gostava de beber macieira, ingeria muito álcool e usava uma gabardine preta. Sentávamos à mesa do café para falar sobre música. Tinha uns olhos cor de amêndoa demasiado vermelhos, cansados, perdidos, numa cute bastante morena. Nunca soube porque conversava comigo. Provavelmente, devia ser porque ouvíamos os mesmos grupos da new wave apesar da diferença de idades. "És ainda um puto", dizia-me. E eu ouvia-o  mais do que falava. Como eu gostaria de voltar a encontrá-lo. Nunca mais soube nada dele.