terça-feira, 6 de junho de 2017

O Homem da Máquina de Projectar

José Castelo por Carlos Olyveira
Feriado do Espírito Santo, cidade da Lagoa. O fim do dia aproxima-se a passos largos e a praça tem ainda gente nos cafés e na Casa do Povo. Há um movimento sereno, ainda que se julgue terem sido muitos aqueles que foram a banhos para os lados das piscinas e do mar. Na passagem por aquela rua, antes de chegarmos à praça, deparamo-nos com um barulho de acção, objectos em movimento, o constatar de vozes gravadas, uma animação produzida em estúdio. Entretanto, uma voz amigável saúda-nos e até parece que estamos a perturbar aquela calmaria que se sente a quem avista aquela curta escadaria. A pergunta impõe-se:“-Será uma sala de cinema?”. A resposta vem no sentido afirmativo bem como um convite para conhecer o seu interior e uma sala de projecção com uma máquina de 35mm e ainda uma pequena sala de apoio onde se vê o desenrolar da fita do tempo das bobines. É um senhor simpático, de porte baixo e sorriso aberto que nos acolhe, dá pelo nome de José Castelo, possuindo apelido de produtor e exibidor de cinema. Vive por aqui, lagoense, e é ele o projeccionista desta sessão numa sala com oitenta e quatro lugares. E vive disto? Nem pensar pois ser projeccionista é, sobretudo, o que está para além da sua serralharia e de outros trabalhos domésticos, o seu passatempo, portanto. O filme que se encontra a passar no écran dá pelo título de “Logan”, uma história de mutantes vivida no futuro não muito longínquo, com somente um único espectador a assistir e que, dado o pendor trágico da narrativa, soluça com o triste findar da história daquele herói caído em desgraça.
Ali ao lado a alegria do projeccionista mantém-se e é por enquanto uma felicidade que não podemos perder. Isto até parece o “Cinema Paraíso”, digo eu, e por isso até se pensa que terá começado assim, por mera curiosidade, nos idos anos 90 do século passado, já que José Castelo trabalhava na Sinaga, fábrica do álcool. Só depois de se ter reformado, ficou a ser ele o responsável pelo Cine Auditório da Lira, numa cidade que já teve sala de cinema e que ainda tem a funcionar o seu Cine Teatro Lagoense. Com as cadeiras do “Vitória”, antigo cinema de Ponta Delgada, as suas máquinas de projecção montadas sob o seu domínio técnico, continua a dar asas à sua paixão e entusiasmo.  É sim, com ele, que por aqui a sétima arte vive e, por tão pouco fogo de artifício, nos continua a fazer sonhar e acreditar.  

Sala de Embarque: um ano depois!

    Faz agora um ano que começamos a trabalhar nesta ideia teatral da Sala de Embarque. Como naquela altura estávamos (e continuamos a estar) unicamente interessados em fazer teatro, fazedores de teatro que somos, nunca foi a nossa principal preocupação esperar pelos apoios, subsídios ou compromissos institucionais. Daí, até decidirmos avançar em Julho com uma proposta concreta foi um pequeno passo e, por isso, foi tão bom poder contar com o espaço da Galeria Arco 8, a disponibilidade e graciosidade do Pedro Bento. Devemos a este, para lá da simpatia e abertura, o apoio incondicional naqueles ensaios intermináveis e suados do verão passado. Assim, nasceu esta criação colectiva em que se foi juntando gente de tantas áreas e proveniências diversas.
Um ano depois e, após a apresentação no Teatro Micaelense em Março último, esta é a semana em que queremos transformar o Cine Teatro Lagoense no “nosso” teatro de eleição, a nossa casa de ensaios, ao mesmo tempo que pretendemos viver aqui um sonho tornado possível. E caso fosse esta sala de teatro um lugar disponível, propício à invenção e ao progresso das formas? As luzes estão já afinadas e dá para pensar em Francisco D´Amaral Almeida e o seu desejo de um teatro vivo, animado, um lugar perfeito para a aquisição de experiências e emoções. O sítio ideal para um pequeno grupo conhecido de "fazedores"…