quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Um Verso de Rodrigo Amarante

 Eu sei, sorte é não querer mais que viver

"Balanço do ano literário" por Madalena de Castro Campos

 Alguém, alguém, alguém
se teria dado ao trabalho
de folhear ao menos o seu pobre livro?
Não diria comprá-lo, lê-lo,
arriscar-se a ter por mal empregue 
o dinheiro gasto.
Apenas espreitá-lo, de pé, na livraria,
assegurando-se de que ninguém olhava e
mantendo-o à distância para evitar o fedor.
Percorrer os títulos, avaliar o corpo,
verificar a pontuação.
Lavar as mãos depois. Os olhos, a boca,
a língua com a qual iluminar o mundo?
in A Gun in the Garland, Companhia das Ilhas, 2019.