segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Do Mané Cigano à Taberna do Raposo...Uma Tarde Saborosa!

          
"Taberna do Raposo"- Ilustração de Mário Roberto
Uma tarde de sexta-feira, início de fim de semana, pode começar muito bem gastronomicamente em Ponta Delgada se, após passeio de reconhecimento arquitectónico e das lojas comerciais, entrarmos, em plena calheta, na Casa de Pasto do “Mané Cigano”. Uma casa especialista em diferentes pratos regionais, com um redobrado cuidado nas iguarias relacionadas com o peixe.
Da sua oferta gastronómica reina, portanto, o peixe fresco, com o prato de chicharros fritos à cabeça, acompanhados com cebola curtida, pimenta regional, feijão, mas é essencialmente o polvo guisado à regional, o bonito ou ainda o peixão grelhado que abrilhantam o menu. A fechar, como sobremesa, é aconselhável comer uma queijada da Ilha Graciosa. No centro da cidade de Ponta Delgada ainda não há, portanto, um circuito de restaurantes com peixe a ser confecionado na rua, algo semelhante a muitos lugares sugestivos do norte e a sul do país. Alguns importar-se-ão com o cheiro que daí resultará, mas o que é isso quando comparados com o saciar da fome ou a sede em cidades portuárias? É uma cidade com o mar tão perto que só ganhará se for cultivada a gastronomia dos sabores do peixe, esta granjeará novos e bons clientes, dispostos a usufruir da luz e das suas esplanadas. De seguida, uma passagem pela Taberna do Raposo, na Rua do Perú, para alegrar e digerir a refeição. Se acertarmos no dia, podemos assistir a um emocionante jogo de dominó ou simplesmente contemplar os expositores e balcão de cores rubras desta taberna particular ou ainda aproveitar para beber um copo de vinho de cheiro. Uma fotografia a preto e branco, a chegar aos quarenta anos, relativa  à inauguração do Estádio de Ponta Delgada, em dia de jogo Benfica-Sporting (vi o meu ídolo Rui Jordão, trajado com a camisola do SLB, que tristeza!!!), compõe a galeria de retratos que ocupam a parede daquele distinto estabelecimento! As divisões por onde se entra nos diferentes espaços da Taberna do Raposo tem também a característica das fitas cromáticas, fazendo-se imediatamente notar a chegada ao denominado “Vale dos Aflitos”. Em jeito de aviso, é escusado pedir café por aqui, pois neste sítio só se degustam líquidos etílicos e licores diversos e nem se avista qualquer televisão ligada, o que é, sem dúvida, uma mais valia nos dias que correm.

Errores non Falsos

            (..) A verdade é o que consideramos real, mas precisamos da mentira poética, a mentira que diz a verdade profunda para entender a realidade. Sabemos o que é uma guerra, podemos ter estado numa guerra, ter-lhe sobrevivido, mas é a Ilíada que nos ajuda a pôr essa experiência em palavras, a focá-la. A experiência concreta, material, é demasiado complexa. Precisamos de inspiração poética para extrair dessa experiência um novo sentido. O que Dante chama “errores non falsos” são as invenções poéticas que são verdadeiras num sentido profundo.”
Alberto Manguel