domingo, 8 de junho de 2025

O Novo Flâneur de Ana Hatherly

 O novo flâneur urbano
herdeiro 
do velho alegorista baudelariano
deambula 
pelas grandes superfícies
do consumo 
onde se exibem
da produção
os ruidosos traços 

Aí 
tudo está encenado
e entre a carência e a oferta
personagens principais
deste espectáculo
o novo flâneur
contempla 
e depois sucumbe 
no mercantil mar iluminado
onde cintila
a avidez jamais satisfeita 
do mais querer 

Porque algo sempre falta
e o desejo 
tudo dilacera 
numa batalha
de antemão perdida
em que o sangue-frio 
não serve p´ra nada.
II
O novo flâneur
navega 
num informático oceano
feito de simulacros
de imaginadas redes de sentido

Olha o écran
o novo espelho 
que figura e desfigura 
o seu medo maior

Onde é que há 
um espelho que tranquilize?
A imagem é só ela:
uma constelação de impasses
um palimpsesto 
feito de interfaces

in Itinerários, Quasi Edições, 2003.

Da Insensibilidade

      "Somos constantemente bombardeados por imagens de violência que se tornam parte daquilo que consumimos nos media, ao lado de anúncios, pinturas, poemas ou bocados de diálogos. E com tantas atrocidades a acontecer no mundo, o modo como as enfrentamos é importante. Como chegamos a este lugar onde podemos parar e pensar, onde podemos estar nessa solidão, encontrar o nosso centro moral? A resposta está em parar de consumir, de agarrar no telefone, de abrir o computador, de olhar para fora de nós mesmos. Porque parte da insensibilização acontece através do consumo, mediado hoje pela tecnologia."

Samantha Rose Hill, em entrevista a Luciana Leiderfarb, in Revista do Expresso, dia 6 de Junho.

Verso de A Garota Não

Tudo começa numa estrada que termina no Alaska 

Ferry Gold, 2025 

Verso de Anna Järvinen

Ge mig hopp, ge mig tro, ge mig nåt