sábado, 15 de fevereiro de 2020

"Cine Voyage" de Vítor Rua & Daltonic Brothers no Arquipélago


                A noite prometia uma viagem, um percurso visual e sonoro à volta de imagens que fazem parte dos sonhos e pesadelos de quem venera fotogramas em movimento. O itinerário cinematográfico apresentado começou com encontros e desencontros de linhas e geometrias que possibilitavam alargar fontes criativas bem como permitir derivas da imaginação. Só depois de algum tempo do trajecto gráfico inicial é que fomos brindados pelas sequências cinemáticas a preto e branco do dealbar do século vinte, tal como se tratasse de uma alucinação, em modo transe hipnótico. Uma andança entusiasta, ainda que programada, que só ficaria completa com o guitarrista projectado na tela a sugerir um corpo visível aumentado que se desloca no tempo e no espaço após ter sido engolido por tão onírica expedição.

Da Arte

             "Sou por uma arte que faça mais do que sentar o rabo no museu.Sou por uma arte que cresça não sabendo sequer se é arte, uma arte que é dada a hipótese de começar do zero. Sou por uma arte que se envolva com a porcaria do dia a dia e ainda saia por cima. Sou por uma arte que imite o humano, isto é, cómica se necessário, ou violenta, ou seja o que for preciso.Sou por uma arte que adquira a sua forma a partir das linhas da vida, que se torça e se estenda impossivelmente e acumule e cuspa e pingue, e seja doce e estúpida como a própria vida."

Claes Oldenburg in Arte na Cidade, de Mário Caeiro, Temas e Debates, 2018