terça-feira, 15 de abril de 2025

Tempo Cura de Naná da Ribeira

Terminada a língua e fechamento

Já podemos ir ao  teu jardim, Celeste

Visitar-te-ei a cada Primavera, sem máscara

Com folhas e flores cravadas no corpo  

O dia a dia de instâncias e de perdas                                  

O teu eco e afago que era quente e sentido

Medos e memórias que ainda guardo comigo

Dos livros e filmes que te substituíram

O Azul de Francisco Brines

          Busquei o azul, perdi a juventude. 
Os corpos, como ondas, rompiam.-se 
em areias desertas. Houve amor
no recanto florido de um jardim 
fechado. E quis achar palavras 
que alguém pudesse amar, e elas valeram-me.
Estou a chegar ao fim. Cega meus olhos 
um desolado azul iluminado.


in A Última Costa, Assírio&Alvim, Outubro de 1997. 

A Minha Praia de João Habitualmente

Nada ficará
Da pedra sobre pedra 
Com que fomos compondo nossos ninhos

Seremos ruína 
Arqueologia dum tempo sulfúrico 
Betão desgastado ferro torcido

Nada falará 
Só o cosmos em festa 
Libertado da sua verruga

Será assim, a nossa ausência 
Um silêncio para sempre
Nada que perturbe a perfeição  dos ventos

Mas, por agora 
Resta ainda a minha praia favorita 
Com encontros à ilharga 
E um mar nítido como nos postais antigos 


in Poemas em Peças, Colecção Quase Dito, Fevereiro, 2014