segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Canção para Helena e a Pensão

Perdido o reencontro na estação
subsiste o reflexo de canais e diques
o  raso périplo à nação sem cortinados
as bicicletas ainda atravessam a lembrar
o varonil apelo em alcova de pitança
depois de incursões nas areias febris
a consumação da adultez  na decrépita Atenas
e as brasas a poisar no fogo das boleias.

Ao delicado endereço rumar
tão esticados passeios nas estradas
companhia de homens de bigode farto
aventura de tenaz  tulipa em sintonia
o girassol à chegada e a bicicleta.

Beatriz, Beatriz!

Excertos de uma entrevista da actriz Beatriz Batarda a Lúcia Crespo no suplemento Weekend do Jornal de Negócios, no dia 24 de Janeiro de 2014:

Beatriz Batarda em "Quaresma" de José Álvaro de Morais
I
        “Por vezes, sinto uma certa indecisão na forma de estar do portugueses, se devemos ser activos no desenhar do caminho do país ou apenas seguirmos, numa posição demissionária e ausente, responsabilizando os governantes e desconsiderando o poder individual. Eu tento participar, dentro daquilo que é o meu espaço e a minha limitação, no desenho daquilo que pode ser o futuro. A verdade é que não sei muito mais do que isto. Tenho, desde que me lembro, dedicado a vida à representação, à arte de contar histórias, e também ao ensino, esperando poder contribuir para a passagem de um testemunho.”
II
      “Não sei qual o caminho futuro que nos propõem ao sujeitarem-nos a tanto sofrimento. Seria muito injusto culparmos a geração dos nossos pais, mas não podemos deixar de pensar que eles são, de certa forma, responsáveis, porque nos foram passando o seu próprio desencanto.”
III
         “A cultura, por exemplo, é um dos espaços mais humanos e democráticos a partir do qual pode nascer a reflexão e diálogo, por ser interior, por ser íntimo. Às vezes, a vida corre e não nos permite fazer esse exercício do espelho, e a cultura devolve-nos esse momento. Não é, como disse, uma função moralizante, nem tão pouco pedagógica, mas é a de criar espaço de diálogo. A ausência, o vazio, o silêncio – que eu espero que não venha a acontecer de uma forma definitiva - é de facto uma perda grave para todos os portugueses. Acho legítimo dizer que a nossa sanidade está em risco."