segunda-feira, 11 de abril de 2016

"Mar" de Tiago Miranda

Tiago Miranda, Pianola, 2013.
O mar em grego é uma palavra do género feminino e foi assim que os antigos helénicos começaram por  tratar desta força da natureza. Uma potência geradora e aglutinadora de vida. “O mar é” disse-me um dia o meu pai para calar aquilo, sobretudo com que o mar nos dá mas que também nos tira. O mar é, foi e será sempre, fonte de riqueza e inspiração neste país com tanto de mar como de lua, daí "o país de lunáticos" do Alexandre O´Neill. Para lá do peixe, dos recursos marinhos e da frota pesqueira, a nossa costa está repleta de praias e locais para nos dedicarmos ao sol, aos mergulhos, aos passeios, ao desporto, ao namoro, à contemplação. Foi isso que Tiago Miranda, repórter fotográfico do Expresso, quis fixar de forma quase diarística, num périplo costeiro de onde resultaram as imagens deste “Mar”. 
Ao longo deste particularíssimo e pulcro objecto, encontramos muitas praias, algumas bem conhecidas e outras menos, mas todas de igual relevância para o respectivo conjunto.  A beleza deste objecto é tanta que aumenta o desejo de viajar pelas praias da nossa infância e adolescência. 
Este livro de fotografias de Tiago Miranda contém ainda um poema de Rui Miguel Ribeiro (“Fez-se chamar com a fúria cava/ de uma onda ou a táctil cobertura/ de uma espuma”), sendo a revisão de Mariana Pinto dos Santos, tendo sido composto e paginado por Eduardo Brito. A tiragem, com a chancela da Pianola, foi de trezentos exemplares. 

Michelangelo Antonioni

Visione del silenzio
Angolo vuoto
Pagina senza parole
Una lettera scritta
Sopra un viso
Di pietra e vapore
Amore
Inutile finestra

Caetano Veloso

Romance de Nós

Estou à beira do mar,
estou à beira de ti.
Ardem no meu olhar
os sonhos que não vi.
Tudo em nós foi naufrágio,
não quisemos saber:
fizemos nosso adágio
do que não pôde ser.
Que resta do amor
a quem é como nós?
Envergonha-me pôr
em verso: «somos sós;
sós como amanhecer
às avessas do mundo;
sós como podem ser
as areias no fundo;
somos sós e sabê-lo
é negar o pronome
que de nós fez novelo
e por nós se consome». 

Luis Filipe Castro Mendes, in "Modos de Música".

Linda Martini: “Sirumba”

Quando neste Portugal contemporâneo, alunos do ensino secundário e seu professor encontram temas em comuns na sala de aula sobre canções rock e um filme do tempo do cinema novo português, é caso para afirmar que nem tudo se perde mas que tudo se transforma. Os Linda Martini conseguiram tal feito, que vai desde o período em que ensaiavam numa casa ocupada dos anos noventa, passando pelos concertos hardcore, até encherem há dias o Coliseu, acumulando um capital de simpatia e comunhão como poucos  conseguem. “Sirumba” está já em escuta e é também o tema de abertura deste novo disco de 2016. É uma canção em forma de hino, caracterizando-se pelas guitarras de forma dançante à procura de encontrar os diferentes espaços para cada um no sentido e vida presente: “Segundo toque/ E eu não vou Amor/ Faço gala/Eu quero é ser cantor/ Se eu chegar ao outro lado/ E voltar tudo para trás/ Não quero ser doutor/ Não quero ser doutor/ Não quero ser doutor/ Não quero ser doutor.”