sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

"Rock n Roll Consciência - Letras”, de Thurston Moore ao Cair da Tarde


            Dou por mim a ler um caderno antigo que me acompanhou no regresso à ilha onde agora habito e fixo uma citação do músico norte-americano, Thurston Moore, fundador dos Sonic Youth, ao “Açoriano Oriental”, a 1 de Março de 2016, aquando da sua passagem por aqui: “A primeira coisa para que me alertaram quando cheguei aqui foi para o estado do tempo, com as quatro estações a acontecerem no mesmo dia. Fiquei espantado, mas já me apercebi que é mesmo assim: o sol, a chuva, o céu azul, ou o céu nublado podem caber num intervalo de apenas seis horas…contudo achei logo os Açores um óptimo lugar para a inspiração. Pelo que me dizem, esta é uma terra de poetas e sempre me interessei pelos lugares que levam as pessoas a escrever e sobre os ambientes que as inspiram.”. Lembro-me, portanto, de ver este músico em cafés que eu próprio frequentava, numa postura acessível de quem sabe que a fama do rock sónico não rimava com ilha verdejante de tempo lento, para lá das variações climatéricas a meio do atlântico.
     Entretanto, estamos no final de mais uma semana e, ao cair da tarde, recebo um telefonema de uma amiga de visita à cidade, a convocar-me para reencontro. Eis que chego já tarde ao local combinado e, em cima da mesa da livraria da respeitada instituição, avisto um livro com o título “Rock n Roll Consciência - Letras”, de Thurston Moore, realizado na Tipografia Micaelense, com os dizeres na contracapa de edição com apenas 100 exemplares, todos eles assinados pelo autor. Folheio o livro, ávido e atónito com a impressão em tipografia, observo as canções nas duas línguas e contemplo as fotografias do livro (uma paisagem, uma árvore, o respetivo músico sentado na soleira de casa de pedra, uma fotografias de composição na tipografia e uma do tipógrafo Diniz Botelho). De imediato, pergunto o preço do livro aos funcionários da livraria que, após alguma demora, alegremente soltam a resposta; “-É gratuito!”. Saio para esse reencontro do café com chocolate com uma sensação de ter encontrado um tesouro, provavelmente um acaso carregado de simbolismo, cinco anos depois. Desconhecia tal feito, eu que observei ao longe a passagem pela ilha de tão ilustre personagem do mundo sónico, não fazia ideia de tal publicação. Talvez, por esse motivo, sinto-me agora agradecido. No entanto, o meu amigo, Diniz Botelho, mestre de tipografia, já cá não se encontra, e, esse, sim, era uma pessoa a quem me habituei a agradecer! Em consciência!