quinta-feira, 18 de agosto de 2016

TASCÀ: A Poesia Volta no Outono!

Fotografia de Bruno Gaudêncio

          
        A TASCÀ está situada na Rua de Lisboa e há mais de dois anos que tem nas noites de quinta-feira tribuna aberta para a poesia. É um edifício muito antigo, uma verdadeira taberna minúscula, mas essencial para criar corpo e cumprir cumplicidades. As “hostilidades” poéticas deram início há três anos na Travessa dos Artistas mas foi pela mão dos amigos João da Ponte e João Malaquias e da conivência de Paulo Amado que se consolidaram naquele local citadino. A cidade de Ponta Delgada, em São Miguel, agradece. Durante dois anos aconteceram coisas boas no pequeno mundo da poesia: editaram-se os “Capítulos A, B e C”- uma colectânea de poetas a residir nos Açores, os dois  livros do Leonardo - “Âmbula” e “Onde Sequer o Luar” e ainda a dupla Medeiros/Lucas que convidou João Pedro Porto para escrever as canções de “Terra do Corpo”. Não esquecer: esta dupla apresentou-se pela primeira vez ao vivo neste peculiar estabelecimento pela mão do malogrado João da Ponte. O dono de tão ilustrado e bem frequentado antro poético, o senhor Paulo Amado, como é sabido, também é visto por vezes a ler poesia e participa das sessões, tal como jamais se esquece de refrear e serenar os bardos compulsivos quando pretendem prolongar a noite ou ainda arremessar farpas aos espúrios poetas que lá caem de pára-quedas ou outros meios de locomoção. As noites de poesia micaelense estão agora paradas e regressam, pois, em Setembro, com o Outono!

Que Vergonha, Rapazes!

Fotografia Carlos Olyveira
Que vergonha, rapazes! Nós práqui,
caídos na cerveja ou no uísque,
a enrolar a conversa no “diz que”
e a desnalgar a fêmea (“Vist’? Viii!”)

Que miséria, meus filhos! Tão sem jeito
é esta videirunha à portuguesa,
que às vezes me soergo no meu leito
e vejo entrar quarta invasão francesa.

Desejo recalcado, com certeza...
Mas logo desço à rua, encontro o Roque
(“O Roque abre-lhe a porta, nunca toque!”)
e desabafo: - Ó Roque, com franqueza:

Você nunca quis ver outros países?
– Bem queria, Sr. O’Neill! E... as varizes?

Alexandre O´Neill

O´Neill, desimportantizar a língua

        Alexandre O´Neill nasceu a 19 de Dezembro de 1924. Anuncia a sua biografia oficial: "Frequentou o Curso de Pilotagem da Escola Náutica em Lisboa, tendo-lhe sido recusada, devido à sua miopia, a cédula marítima". Um dia escreveu um poema para o seu filho intitulado “Chaval”: “Entre o Bem e o Mal,/cresce a borbulha na cara do chaval./O chaval ainda não sabe/que a barba, bem ou mal/feita, é uma banalidade/matinal”. Os seus poemas estão reunidos na Assírio e Alvim em várias edições. 


-Fotografia de Carlos Olyveira a partir da capa/desenho de João Lázaro publicado na revista Pública de 18 de Agosto de 1996.