terça-feira, 31 de outubro de 2017

Outubro

“October/ And the trees are stripped bare/ Of all they wear/What do I care/ October/ And kingdoms rise/And kingdoms fall/ But you go on...and on...”
Paul Hewson, U2

Outubro despede-se e todos sabemos que qualquer adeus pode ser triste sobretudo quando uma das partes faz questão de lamentar a partida ainda que sem lamúria ou sinais de pranto. O décimo mês termina agora, comprovando-se que musicalmente ainda mexe. Sem ter sido convulso, tornou-se, à medida que o tempo meteorológico se foi deteriorando, algo vivo e secreto. Desse tempo fluido ocorre verificar este concertado de dias em que o sangue escorreu de forma perpétua e colorida, à semelhança do que diria Cézanne. Ouvir dizer no final de “Ilusão”, de Sofia Marques, o mestre das artes de palco, Luís Miguel Cintra, que a realizadora nada sabia de filmes nem de filmar quando começou e que agora realizou um documentário carregado de belos enquadramentos e planos reveladores e perfeitos. E ainda assistirmos ao partilhar desta insatisfação dum homem que viveu do palco, alimentou-se da vida dos textos e que tanto nos pode ainda ensinar. E dois dias depois, naquele mesmo palco, uma italiana, Giovanna Barbanti, a dialogar com os sons e o silêncio, naquele barroco dilacerante ou jogando com loops sincopados de temas contemporâneos, delicados, possuídos de exaltação e sentido. Fica aqui essa certeza mesmo quando a matemática dos tempos exige contenção. E logo de seguida a ousadia da Orquestra AngraJazz, com mais de vinte de músicos, homenagear Duke Ellington num registo inédito nos palcos nacionais. E como se não bastasse, a democracia das palavras em período crescente com a ilha literária a trazer dois novos livros – “Os Ossos Dentro da Cinza”, a poesia de Emanuel Jorge Botelho e “A Brecha”, um romance de João Pedro Porto. E Novembro que não tarda a entrar