terça-feira, 21 de maio de 2013

Florilégios do século XXI

I
trazes na algibeira um olho de pássaro, dois berlindes e um sugo de baunilha,

trazes um braço ao peito
como um jovem cruzado,
aos pés Giotto rendido

II
frágil
o que pensava ser um peixe dourado,
era apenas um pequeno fantasma
adormecido
sobre a minha mão

III
carpem os degraus
noite adentro
cavaleiro e cavalo vendados
os olhos graves, em tom menor

IV
compravas uma santa de açúcar
que lançavas ao peito
e as tuas mãos lambuzadas
deixavam no vestido
marcas do divino
debruado a veludo

V
deponho uma pena sobre um coração de pássaro
tem um bater pequeno
compassado de aflição
com que me chama,
ardente de sede

VI
trazes um animal preso pela imaginação
não lhe reconheces a forma, nem o gemido
mas alimenta-lo com as páginas dos teus livros:hoje serviu-se daquela
em que descrevias como o princípio do prazer
magistralmente
se sobrepunha ao da realidade
                                                          
Ana Paula Inácio