quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Belas Artes

Ergue-se à solidão um obelisco 
no alto do casulo desarrumado
a fada subtilmente estende a lã
como nuvem distraída sem descanso
implacável é o rumor da ventania
tecer a forma eleger figura
hora a hora o tempo clama
as mãos dão azo ao prumo à fantasia
inquietude sem clemência a perfeição
no decantado algodão se aprimora
triunfantes em leito de caos levitam
em nada em concreto se alimentam
apaziguados do jeito e da formosura.

Diários de Angra

Visita ao Pico das Cruzinhas no Monte Brasil, paisagem protegida, para  obter assim uma panorâmica geral da cidade. Há oitenta anos ergueu-se aqui um padrão para assinalar os quinhentos anos da descoberta da Ilha Terceira. E daqui é possível ver a imponência arquitectónica da cidade e absorver Angra do Heroísmo sob a forma nebulosa e melancólica, há muito considerada monumento regional.Passaram trinta e dois anos sobre o enorme terramoto que arrasou com Angra do Herosímo, tendo este  destruído a baixa da cidade e uma das suas mais emblemáticas igrejas, a Catedral da Sé  (séculos XV e XVI), que teria novo episódio alguns meses mais tarde com a ocorrência de um incêndio que destruiu a talha dourada. A cidade seria reconstruída na sua forma original  e reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade. Pela manhã houve também visita ao Mercado do Duque de Bragança, na Rua do Rego, para adquirir bens essenciais e participar no festival de cores ali disponível: anonas, castanhas, laranjas, bananas, ervas aromáticas, peixes vários e legumes com fartura. Longe do frenesim automobilístico das vetustas e admiráveis ruas da baixa, aqui ainda é possível conversar, discutir os preços, os cortes e os impostos, bem como caminhar como quem participa num espectáculo policromático com a banda sonora de palavras amigas e discretas.