sábado, 1 de maio de 2021

Os Maios de Maio

         Celebra-se, hoje, o Dia Internacional do Trabalhador, um pouco por todo o mundo. Este feriado acontece duas semanas depois da chegada da Primavera, a retoma da estação vital, essa poderosa alavanca do vigor floral e da natureza na sua expressão vibrante.
       Aqui, por toda a ilha, assistimos à antiga e popular tradição dos Maios que se renova anualmente nas diferentes ilhas dos Açores, ocupando espaço e suscitando atenção nos mapas da geografia insular. Desta feita, os ilhéus resolvem comemorar o advento da vida e da natureza com a colocação dos Maios no exterior dos espaços: nas varandas das casas, à entrada dos cafés, no alpendre dos solares, à soleira das portas. Estes bonecos executados de forma artesanal, semelhantes às figuras humanas, por vezes ainda maiores ou elaborados de forma exagerada e caricatural, portanto, para que possam ser observados e contemplados pelos seus modos excessivos e convincentes.
       O ritual é, por isso, muito antigo, já que Maia era a deusa da mitologia romana da Primavera, sendo que esta evocação foi conotada como uma festa pagã, apontando essencialmente para o nascimento da vida: a aparição das flores, o semear das colheitas e das plantações de cultivo. Assistimos, assim, na abertura do mês de Maio ao aparecimento os Maios e, junto destes bonecos antropomórficos, surgem sátiras, pregões, narrativas, que dão conta das figuras e escarnecem de riso ou encobrem tristeza os dias e a vida que por aqui se vive. Em perspetiva, trata-se de uma folia para quem passa e observa o divertimento ali presente e que pode partir pela ilha fora em busca dos dizeres mais aguçados e acutilantes. 
         Assim, aproveite-se este momento para homenagear o impulso primaveril que recomeça bem como a festa e a criatividade humana.