sábado, 5 de julho de 2014

An Happy Summer in the Azores

«Eis que, passados alguns dias após a nossa chegada, nos deparámos com os folklíricos, a mais curiosa espécie das Ilhas». Quem assim escreve (ressalvando-se, embora, os tropeços da tradução) é o Capitão John  B. Walkman, autor desse estranho e estravagante livro An Happy Summer in the Azores, em que entendeu deixar registo da sua passagem por algumas ilhas do arquipélago, a bordo do Seamaster.
Das razões e espantos do Capitão, erudito em demasia para a patente que ostentava, não cuidará o leitor e talvez faça mesmo por esquecer alguma sobranceria com que,às vezes, esta escrita nos olha; não deixará de anotar o intuito estilizador de Walkman, a tendência para alegorizar-nos a história e os seus fantasmas: «Os folklíricios chegaram com os primeiros colonos. Desembaracaram trazendo na bagagem o arsenal da paz construída com os mortos do futuro. Depois, através dos tempos revelaram-se de uma importância incalculável no processo de contra-subversão levado a efeito na história destes lugares: nos anos de seca, quando o mar se atirava à pedra ou as montanhas subvertidamente vermelhas se derramavam sobre as gentes, eles sentavam-se, Missionários da Ordem, nas tardes incertas lendo poemas importados, declamando literaturas mais que duvidosas às multidões que, rebentando de fome e de rezas não ouvidas, se deixavam entontecer de sono.»
Não voltou John Walkman a dispor de outro feliz verão como esse nos Açores; a morte atalhou-lhe o passo na primavera imediata, numa tarde em que levava à tipografia as provas revistas do seu livro. Nunca pôde, por isso, saber em que medida se reconheceria ou não no olhar que sobre nós lançou.
 
in Algumas das Cidades, Urbano Bettencourt.