domingo, 19 de novembro de 2017

Um Poema de Leonardo

detrás dos tambores de uma grande asma
um ardor arfa no vidro 
um eco 
com o seu vento de longe 
acorda-te apenas com os dedos
esboço 
de uma derrocada de flautas tristes

trata-se
de um anjo bêbedo que veio dizer-te 
que a fractura abriu pálpebras nas paredes 
que uma leve lua fende o chão 
do rumor de um exército de cascos 
que se aproxima

vem ajudar-te nos preparativos do festim 
para nos receber 
chegaremos cansados 
as preces encheram de pó as estradas 
os soldados suspiram por haxixe 
os cavalos não bebem ouro há três dias

prepara-nos banhos vinhos música 
acende todas as velas do oásis 
espalha os incensos  
enquanto esta carta atravessa a alegria 
do reencontro

ao chegarmos  
a mais alada das minhas filhas descerá
dir-te-á ao véu do ouvido ouve 
vê 
chove neste inferno 
por isso dança

e um dia 
ao regressares tu pelos passos da criança
sorrir-te-á pelo caminho 
a memória confusa de tudo isto que te escrevo agora 
em silêncio porque 
ambos sabemos 
felicidade e oxigénio e voz
tudo isto é inflamável