sexta-feira, 14 de julho de 2017

A Melancolia Congénita

Fotografia de Carlos Olyveira
        "As janelas dos primeiros andares, logo acima das lojas e dos armazéns, são em geral guarnecidas com pequenas varandas de madeira entrelaçada, como nas janelas das nossas leitarias, pintadas de vermelho escuro, verde ou branco. Nas casas maiores vêem-se elegantes varandas de ferro. Pelas goteiras dos telhados escorre água em abundância e a telha da esquina toma frequentemente a forma de um pássaro de asas abertas, ou alonga-se para cima em comprida ponta. Os edifícios são caiados de branco e as ombreiras das portas, cantarias das janelas e cornijas ficam em geral da cor da pedra, cinzento-escuro ou negra. Os sapateiros trabalham sentados à entrada das portas, os alfaiates estão acocorados, o ferreiro com o ferro na rua, em frente da porta, cobre carvões em brasa. Os que eu vi sentados em bancos no interior das lojas, pareciam haver sacudido aquela melancolia congénita que lhes atribui, entregando-se a ruidosa alegria."

         in Um Inverno nos Açores e Um Verão no Vale das Furnas, de Joseph e Henry Bullar, escrito em 1838-39, numa edição do Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores, 1986.