sábado, 7 de junho de 2014

Do Junho

O garajau supera o tubular Maio
denunciando o cálido éxodo rasante
o instante  brilho das escamas
em branco e espuma no estio chegando.

Sossego

Fotografia de Eduardo Brito

Dois Poemas de Heitor Aghá Silva

Estou profundamente humilhado

Estou profundamente humilhado
com o silêncio das acácias
estupidamente enigmáticas,
quando eu sei que elas escondem
o infinito das raízes?...
Graníticas, catedrais, transfiguradas,
embrulham-se na bruma
e riem-se de mim perdidamente
com seus cabelos verdes,
longos cabelos sensíveis,
simulando ao vento.

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Estou muito, muito magoado
com o silêncio das acácias.


Não me recordo

Não me recordo se havia alguma flor
no meu jardim.
Talvez fosse Verão...mas todas as manhãs,
ao acordar,
inexplicavelmente sentia saudades de mim..

Só sei chorar em português. Se a minha mãe
soubesse...
Como detesto os meus brinquedos de criança.
Talvez fosse verão, e houvesse flores...
Eu é que não fui um jardim da minha infância

Todos os astros se perderam no infinito.
Que saudades eu sinto de não ter sido um outro.
Talvez fosse verão, sei lá, e houvesse flores.
Só eu não fui ninguém entre o meu ser
e o sonho de outro.


in "nove rumores do mar-antologia de poesia açoriana contemporânea", organização de eduardo bettencourt pinto.