terça-feira, 19 de julho de 2016

Ontem, escrito numa parede da cidade

-Gostas de leite, gordo?
-Passa aí o pão, saloio!
-Dá-me um pêssego, careca!
-Esse casaquinho de lã, virgem!*

*-escutadas na Tasca do Mário. 

Sala de Embarque: Nono Ensaio

Fotografia de Carlos Olyveira
O verão ainda não atingiu o seu pico de calor e no entanto por aqui a chuva alivia o capacete e a humidade. A temperatura, é um facto, melhora sempre que chove. Encontramo-nos a ensaiar durante o período do Festival de Arte Urbana – Walk and Talk e a ilha está, por instantes, radiosa. É um  privilégio este cair da tarde dourado em Santa Clara, a despedida da luz do dia e a lua a encher-se, as nuvens espalhadas ao comprido cobrindo o azul do céu. No interior da Galeria Arco 8 encontra-se uma instalação intitulada de “O Portal”, de Nuno Paiva, um trabalho de espelhos em forma de hexágono articuladas entre si em forma de reflexo e que já esteve no ano passado na baía de Ponta Delgada.
Os sinos repicam na Igreja de Santa Clara e, após exercícios de relaxamento e voz, retomamos o ensaio e a leitura de texto corrido. Insistimos nessa vontade comum de encontrar o tom geral do texto, daí o reforço neste trabalho de encenação colectiva e adaptação do texto às circunstâncias. É assim que a personagem da Rapariga Aluada abandona os olhos de amêndoa no texto para se fixar nesse azul vítreo da actriz em causa: “Eu quero é correr mundo…Tantas coisas a acontecer lá fora, tantas coisas, e aqui estou eu enfiada dentro de quatro paredes, nos meus dezassete anos de vida, pois tudo isto me parece tão pouco, com estes meus olhos azuis, com esta minha camisa às flores, o meu cabelo feito ondas e uma vontade indómita de querer viver. Eu quero é correr mundo…”. Por agora, fixamo-nos nesta casa provisória e daqui só sairemos com o sinal de dever cumprido. Julho entra na recta final e temos que arrepiar caminho, por isso conviria que os dias açorianos continuassem assim...frescos e amenos.

Da Guerra

         " A crueldade dos poderosos é a glória dos humildes mas ninguém paga a desolação da terra. A guerra é alimentada pela ignorância. A ignorância é uma forma de destruição. Quem não sabe de onde vem o vento por ele será empurrado. Quem não compreende o que é o corpo que usamos, nele será perdido. "
Augustina Bessa Luís