quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Batel

Não cheguei a roubar o coração
que fez mover o teu batel
juro que não fiz por mal
deixei-o intacto e sem mácula
talvez assim encontre o rumo
descubra finalmente sua rota
afinal era um barco de papel

Mosteiros: a Vera Ilha.

      “(…) mas estamos tão pouco
onde estamos”


José Tolentino Mendonça

         Foi inesperado e surpreendente aviso de poeta, pensei. Mas que havia de visitar um dia os Mosteiros, a vera ilha. E numa circunflexa e solarenga manhã de Janeiro cumpriu-se a visita a tão recôndita povoação. A negrura e o recorte dos Ilhéus e um céu pintado de azul claro mais o branco da espuma compõe a veracidade de tão magnífico lugar. O motor e o barulho das vagas na invernia e a proximidade das nuvens solidificam o cenário de um adormecido porto e com ele os seus barcos à espera que da bonança se possam aproveitar um dia  – um dos "boca aberta" tinha a denominação de Aristóteles – e a visão daquele rochedo  com o desenho de uma casa abandonada, a lembrar o Ilhéu das Cabras (agora percebo, amigo Rui), o sol de oiro ali derramado a lembrar a tua Terceira, a neblina que cai sobre as águas límpidas e cristalinas, como se tivessem a mesma forma  das rochas dos Biscoitos e a certeza de um tempo e inspiração que a qualquer momento retomem o seu curso, ainda que sem máquina fotográfica e apenas um bloco de apontamentos.

Aquoso

A minha cabeça é vagamente sólida
respiro como os golfinhos
afundo velhas carcaças no mar
é de prever que a quilha meta água.