quinta-feira, 4 de novembro de 2021

"P.S. Lucas" no Arquipélago da Ribeira Grande

 


Diogo Lima: o Cineasta Irónico!

 

         

          Diogo Lima tem 28 anos e nasceu na Ribeira Grande, em São Miguel. Desde muito cedo quis fazer filmes para mudar o mundo, transformar o lugar onde cresceu, ser conhecido pelos registos audiovisuais que realiza. Ele era muito novo, quando aos dezassete anos, decidiu partir para Lisboa e estudar Cinema na Universidade Lusófona. Logo no segundo ano da universidade, realizou o documentário “PDL-LIS”, que acabou por vencer o Prémio Açores e o de Novo Talento Regional/ Restart no Panazorean Film Festival de 2012. Depois, prosseguiu o seu percurso em torno das imagens num registo pontuado pela ironia e crítica aos seus contemporâneos, mantendo o seu elo de ligação aos Açores, participando com regularidade com diferentes documentos visuais para o Festival Tremor ou Walk and Talk.
                Passou, entretanto, uma década desde o seu primeiro documentário "PDL-LIS", e agora Diogo Lima acabou de realizar o “Os Últimos Dias de Emanuel Raposo", uma média metragem de 46 minutos centrada na vida de um apresentador de televisão nos Açores, isto é, focada no aparecimento e desenvolvimento da televisão no arquipélago. O filme foi já apresentado no Teatro Micaelense, em Julho último, e, teve uma participação honrosa no Doc Lisboa, aguardando estreia na RTP Açores. É uma paródia sobre a vida deste apresentador cheio de trejeitos e manias, que vive ao sabor dos seus humores e feitio e é, sobretudo, uma crítica ao meio televisivo da altura, ainda que, também ele, o próprio meio, carregado de energia, criatividade e boa disposição.

"Lúcia e Conceição": À Luz da Camelia Sinensis!

 

Ainda hoje o hábito contemporâneo do chá caracteriza-se por ser bebido às cinco da tarde numa chávena de porcelana. O chá terá sido introduzido nos Açores por via das naus e caravelas provenientes do oriente no século XVIII. Depois, foram chegando biólogos e botânicos que aprofundaram o conhecimento da planta camelia sinensis e tornaram o chá um fenómeno insular…até hoje!~

“Lúcia e Conceição” é um documentário produzido pela “Cinequipa”, um grupo de cineastas da RTP, liderada por Fernando Matos Silva. A realização do documentário “Lúcia e Conceição” ocorreu no ano de 1974, um ano antes da primeira emissão de televisão nos Açores, que teve lugar a onze de agosto de 1975.  Este documentário retrata as crianças e adolescentes que trabalhavam nas plantações de chá, na Gorreana, freguesia da Maia. A Fábrica da Gorreana é, ainda hoje, dos locais mais antigos da produção de chá na Europa, com data da fundação de 1893. Em 1974, à altura deste registo documental, o vencimento diário destes adolescentes que recolhiam a planta do chá situava-se nos 36 escudos diários. Era um período social e histórico duma zona rural marcada essencialmente por parcos recursos financeiros, pouca ou nenhuma mobilidade social e ausência de luz elétrica.

As adolescentes Lúcia e Conceição, que dão título à aventura cinematográfica em pleno momento do advento da democracia, falam, sobretudo, em emigrar para o Canadá, dada a ausência de trabalho remunerado na ilha. O pai de Conceição, agricultor e camponês, plantava nessa altura essencialmente milho e beterraba. O milho era um elemento fundamental para ser usado em casa para a feitura de massa sovada, depois de ter ido à moagem comunitária. Conceição tinha mais quatro irmãos, sinal de outros tempos em que os agregados familiares eram bem mais alargados. Os hábitos quotidianos, ao final de cada  dia destes adolescentes também, pois após os trabalhos duros na recolha do chá, ainda havia tempo para ler “romances de amor”, caprichos, publicações que deviam circular de mão em mão, dizemos nós. Os adolescentes retratados neste documentário tinham maioritariamente a quinta e a sexta classe da altura. Estes trabalhavam cinco meses na apanha do chá e depois deslocavam-se para mais dois meses na atividade da apanha do tabaco. Após visionamento do documentário, constatamos que estas crianças e adolescentes tinham como único horizonte continuar as profissões dos progenitores, sendo que eram raras para estes a oportunidade de prosseguir os seus estudos.  Este trabalho da apanha do chá era feito essencialmente pelas mulheres das zonas rurais, já que as da Ribeira Grande se apartavam dos labores agrícolas, e tão só a dedicação às atividades de costura e bordados, implicando por isso uma distinção com as mulheres das freguesias que se dedicavam à agricultura e demais lides domésticas. Quando se lhes pergunta pela alimentação que tinham em casa, estas desmancharam-se a rir. Porque será? A alimentação destas crianças e adolescentes que trabalhavam nas plantações de chá era feita sobretudo à base de peixe e batatas, apesar da abundância de vacas na ilha, sendo a carne para dias especiais.  

No início do documentário ouve-se ainda a voz do narrador assegurar que estes adolescentes nunca verão este filme e que por isso não terão oportunidade de fazer o seu autorreconhecimento. Passou entretanto quase meio século, o chá permanece naquele lugar como elemento essencial e motor da economia local. A vida das pessoas e das crianças, por sinal, mudou e bastante. O que dizer agora depois de vermos o filme tantos anos depois?

O Designer Omnipresente!

            Foi e será sempre o meu designer português favorito. Só recentemente me apercebi como ele esteve sempre presente. A sua leveza e humor nas publicações a que eu fui lendo ao longo destes anos de consumidor de jornais e revistas. Descobri, há dias, que ele povoou a minha existência e me acompanhou, sobretudo,  na minha adolescência e na juventude com a sua linguagem inventiva e apelativa. Por vezes, nem sabia que era o Jorge Silva que estava por detrás destes projectos, a maioria das vezes com coisas arrojadas e nos limites do risco e da imaginação. Eram, essencialmente, as suas linhas inovadoras, os seus traços soltos, a composição do espaço, os seus sinais lúdicos que me cativavam e entusiasmavam. Por isso, tenho e trarei  comigo edições do Jornal "Combate", outras do Jornal "Independente", ainda da revista "Adufe" ou do saudoso "Mil Folhas" do Público que me agarraram e que delas nunca me conseguirei desprender ou desfazer. Assim se coseu, pois, a minha ligação ao design e a este desenhador de páginas que sempre me encantou e fascinou. Obrigado por tudo isto e por muito mais, Jorge!