sábado, 9 de maio de 2020

Europa, Europa, Europa!

           Para quem fez Erasmus na cidade grega de Salónica há muitos anos, hoje é dia de celebrar a ideia da Europa. A Europa é uma ideia instigante para comemorar e preparar o futuro. À altura, foi uma experiência única, irrepetível e vivida de forma intensa que ultrapassou o espaço das aprendizagens e trocas universitárias ou mesmo o programa de estudos ali existente, pois houve saberes e competências subtis que não se cingiram à área de estudos académicos. Por isso, aprenderam-se outras línguas, viajou-se bastante dentro e fora do país em que se esteve, conheceram-se os hábitos,   gostos e sabores alimentares de um país diferente do nosso, contactou-se com a história e a cultura daquele país de acolhimento, a tal ponto que se fizeram amizades que perduram ao longo da vida. O projecto Erasmus pode ser dado como uma boa garantia do melhor que a União Europeia logrou e soube criar neste espaço comum a que todos temos direito. Passaram-se muitos anos e, há, evidentemente, muitas dúvidas e perplexidades do rumo que está a ser traçado. A União Europeia nem sempre é coesa, tolerante ou mesmo revele, por vezes, falhas na solidariedade e respeito por algumas das suas democracias ou até mesmo no  ritmo de alguns membros da união. Por isso, evocar hoje o programa Erasmus é a garantia e apreço do que poderá ser a identidade europeia no futuro: tolerante, aberta  e plural. Que haja sempre Europa!

“The Nigger of The Narcissus” de T.Lux Feininger

T.Lux Feininger: “The Nigger of The Narcissus” 1931
              (Daqui: http://www.cocosse-journal.org/)

Chamo-te porque tudo está ainda no princípio

Chamo-te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que eu quero ver.

Peço-te que sejas o presente.
Peço-te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.

Sophia de Mello Breyner Andresen
"Chamo-te porque tudo está ainda no princípio"
 Sophia de Mello Breyner Andresen

A Morte da Água

“Um dos passeios que mais gosto de dar é ir a Esposende ver desaguar o Cávado. Existe lá um bar apropriado para isso. Um rio é a infância da água. As margens, o leito, tudo a protege. Na foz é que há a aventura do mar largo. Acabou-se qualquer possível árvore genealógica, visível no anel do dedo. Acabou-se mesmo qualquer passado. É o convívio com a distância, com o incomensurável. É o anonimato. E a todo o momento há água que se lança nessa aventura. Adeus margens verdejantes, adeus pontes, adeus peixes conhecidos. Agora é o mar salgado, a aventura sem retorno, nem mesmo na maré cheia. E é em Esposende que eu gosto de assistir, durante horas, a troco de uma cerveja, à morte de um rio que envelheceu a romper pedras e plantas, que lutou, que torneou obstáculos. Impossível voltar atrás. Agora é a morte. Ou a vida.”
Ruy Belo in “Todos os Poemas”.

Da Água

          "Entrar na água, para mim, é como sentir um beijo em todo o corpo."
Jacques Yves Cousteau (1910-1997)