sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O Obséquio de Comprar Produtos da Terra e do Mar

            O Mercado da Graça, em Ponta Delgada, abre portas muito cedo, por volta das sete horas da manhã, repetindo o mesmo horário até quinta-feira, encerrando nestes dias às seis da tarde. Nos dias de sexta e sábado este lugar de comércio é apenas reservado às manhãs, pois fecha às duas da tarde e, como encerra aos domingos, tem essa particularidade de concentrar as compras numa parte do dia. O melhor é começar as compras bem cedo.

"Mercado do Peixe" - Ilustração de Mário Roberto

            Logo à entrada do mercado, devemos exercitar o sentido do olfacto, já que acreditamos não ser possível usar o paladar, exercitemos, portanto, o exalar de aromas e cheiros dos produtos da terra que lá se encontram, provenientes dos mais diferentes lugares da ilha verde. Esse sentido deve vir, portanto, muito antes da visão, já que muitas vezes a aparência e colorido dos respectivos víveres, não é atributo de odor exuberante e frescura, por isso convirá meter a mão e o nariz onde se é chamado, sem abusar, claro.  A verdade é que muitos de nós acordamos com ansias e desejos de artigos frescos, coisas boas e tenras, sobretudo deliciosas para comer ou ter por perto, se possível, muito, muito saborosas. É, sem dúvida, zeloso e bastante cuidadoso da nossa parte ir ao encontro das delícias e paladares que a nossa terra e mar dão, a exigência obrigatória de qualidade alimentar, bem longe dos plásticos e demais embalagens poluentes, ainda com a vantagem de se poder aprender sobre o tempo das colheitas e abordar a meteorologia de forma provisória e descomprometida, à boa maneira açoriana.
           É ali, na freguesia de São Pedro, num edifício que remonta a meados do século XIX, que se concentram os vendedores habituais, as pessoas que fazem e vivem aquele quotidiano enquanto comerciantes e vendedores de produtos locais. Por vezes, simpáticos, muitas vezes cansados com as agruras de um dia-a-dia árduo e nem sempre dispostos a tolerar clientes inquisitivos e impacientes. No entanto, por vezes, é deveras surpreendente a alegria permanente que se vislumbra num lugar como este, sabendo nós de histórias de sacrifício e obstáculos que existem por detrás daquelas existências. O sítio é, pois, propício à policromia em qualquer altura do ano, com uma pletora de cores que os frutos, vegetais e flores lhe confere.  Na visita a realizar não podemos descurar a compra dos produtos que a terra açoriana nos dá: inhame, pimenta da terra, batata doce, anonas, araçás, goiabas (quando é o tempo delas, claro), ainda o famoso ananás e, claro, há também por lá um cantinho dedicado aos queijos oriundos de todo o arquipélago que, como podem imaginar, são um verdadeiro comprazimento. Bem lá no fundo do mercado, há também a peixaria, sendo razão de sobra para aí encontrar e indagar a origem dos peixes do mar profundo do Atlântico, deparar-nos assim com o peixão, veja, boca negra, espadarte, alfonsim, imperador, bodião, bonito, congro, chicharro (no continente, o jaquinzinho) e ainda o polvo, que dali passarão a ser as verdadeiras atracções da restauração local.