quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Arlindo

      Olhei para ele e demorei algum tempo a reconhecê-lo. Tinham passado mais de dez anos desde que o vi num terreno junto das suas vacas no lugar mais ocidental da Europa. Era um dia de bruma intensa e foi a única pessoa que avistei no trilho efectuado. Enquanto trabalhava no seu terreno, tinha junto de si uma bandeira nacional pregada ao chão. À altura, cumprimentou-me e aproveitei para lhe tirar uma fotografia junto daquele símbolo nacional. A seguir, limitei-me a perguntar pelo seu nome e prossegui o caminho até ao Farol de Albernaz. Nas últimas vezes que lá tenho ido não o tenho visto mas sabia que andava lá por cima a mondar a terra. Voltei agora a vê-lo pela manhãzinha na estrada que vai dar ao centro da freguesia. Consigo transportava um rádio ao peito onde escutava o programa dedicado às bandas filarmónicas. Disse-me ter saudades do tempo em que as pessoas se respeitavam umas às outras, ainda se referiu ao quilo de amoras a quinhentos escudos, e que toda a gente comprava, por sinal, bem como afiançou, felizmente por ali, ninguém rouba nada a ninguém. Era domingo de festa na freguesia e ele ainda tinha que voltar à montanha antes de escurecer.