terça-feira, 29 de novembro de 2016

Penúmbria no Teatro Micaelense

Fotograma de Penúmbria de Eduardo Brito
Penúmbria venceu a edição deste ano do Arquitecturas Film Festival. O filme de Eduardo Brito será exibido, dia 7 de Dezembro, às 21h30, no Teatro Micaelense. Escolhemos o fim de Novembro para conversar com o autor do filme antes da tão aguardada exibição.
Douta Melancolia: No início escutamos na narração:“A verdade é que Penúmbria sempre fora um fim de terra desde a sua fundação, há cerca de duzentos anos. O lugar ficou a dever o nome à sombra permanente, provocada por uma montanha alta e circundante no seu extremo sul.” Que sombra é esta que poderá habitar no espectador deste teu filme?
Eduardo Brito: É a sombra de um local que foi um erro. Ou seja, de Penúmbria, uma cidade imaginada como muito triste: má localização, atmosfera e clima; mas também cidade onde nada floresce. Daí que - premissa inicial do filme - a sua comunidade decide ir-se embora dali, assinalando o lugar como uma distopia. Noutro plano, talvez esta sombra seja o desafio do espaço e da sua leitura - de uma das suas possíveis leituras: como falhanço histórico, antropológico, arquitectónico.
DM-Acabaste de receber o Mikeldi de Oro para melhor ficção no 58º Zinebi  de Bilbao...como foi que tudo isto aconteceu?
E.B: Receber esta distinção é uma grande honra: pelo facto de acontecer logo na estreia internacional do filme, por acontecer num festival mítico como o Zinebi e, claro, pela inegável qualidade de outros filmes a concurso. Dá-me muito alento: o reconhecimento do trabalho é também uma forma de continuarmos a crer no que fazemos - neste caso, a crer em imaginações de cidades.
DM- É sabido que tens vindo com regularidade aos Açores, sobretudo a São Miguel. O que tens andado a fazer por estas paragens? E o que esperas desta projecção?
E.B: Como argumentista, a trabalhar num projecto chamado Hálito Azul, do realizador Rodrigo Areias que tem como ponto de partida Os Pescadores, de Raul Brandão e que decorre na Ribeira Quente. Da projecção, espero que corra bem em termos de som e imagem e que quem a veja, disfrute e compreenda a cidade imaginária de Penúmbria, pese embora a sua tristeza.
DM-Até onde pode ir este filme?
E.B: A proposta de Penúmbria passa, antes de tudo, pela imaginação de um lugar - de uma finisterra. Cria-se-lhe a geografia, a história e as histórias, o som, a arquitectura e a memória. As finisterras são um tema que tenho trabalhado e imaginado muito, seja na escrita, com As Orcadianas, na fotografia, com Passing Place, Sob A Luz Quase Igual e Terras Últimas e agora no cinema. Com Penúmbria quis também debruçar-me também sobre a relação entre texto (narração) e imagem. Mas no início e no fim de tudo está sempre o gosto por uma história, o gosto pela ilusão do cinema.