sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Missiva a Janeiro Alves antes do Findar do Mês

 Amigo Janeiro Alves,

    Estranhamente hoje acordei com o refrão de “Voyage, Voyage”, dos Desireless, e dei por mim com chuveiro junto da boca a cantar: “Plus loin que la nuit et le jour,/(voyage voyage)Voyage (voyage)/ Dans l'espace inouï de l'amour./ Voyage, voyage/ Sur l'eau sacrée d'un fleuve indien,/ (voyage voyage)Voyage (voyage)/Et jamais ne revient”, um tema pertencente à dupla Rivat e Dubois. E, é verdade, lembrei-me de si, o meu magnífico viajante Janeiro Alves, amante do norte, ainda que sempre envolvido em grandes mariscadas, já para não dizer “suomices”. 
         Aceitei, portanto, de bom grado a embalagem de filetes de peixe que me enviou do norte europeu. Adorei, adorei, adorei. Sinceramente não me custou interceder perante o embaixador dada as circunstâncias em que o meu amigo se encontrava e a sua necessidade urgente de anonimato bem como essa sua inusitada vontade de emanar divagações de bolso. No entanto, deixe que lhe diga que o amigo Janeiro deveria fazer um retiro por aqui, mais concretamente no conhecido “Cu de Judas”, longe de qualquer avistamento ou proximidade humana. O que me diz sobre isso?
                Escrevo-lhe também para dizer que atravesso um momento crucial da minha existência pois decidi fazer um périplo por diversas universidades e centros do conhecimento com o intuito de proferir a seguinte conferência: “O Fim do Trabalho: Um Futuro de Ouro?” e em que pretendo elucidar a sociedade em geral sobre o que irá surgir depois do trabalho, tal e qual o conhecemos. O meu amigo bem sabe que as máquinas produzem muito mais e em pouco tempo, não parando de produzir desempregados. É urgente, à laia do que escreveu o Paul Lafargue, em “Le Droit de La Paresse” (O Direito à Preguiça), corria o ano de 1883, reclamar de baixo para cima: “E os filantropos da indústria continuam a aproveitar as crises de desemprego para fabricar mais barato.” É tempo de abandonarmos o trabalho como obrigação/dever e voltarmos a defender o trabalho enquanto livre escolha de fazermos o que gostamos e queremos. Não concorda, meu caro amigo?
            Aproveito também, agora que sei que voltou ao seu tugúrio no Estoril, para lhe augurar um “Soft Power Relaxante”, enquanto bebo por aqui o poderoso néctar das montanhas de Kowatunturi que o meu amigo colocou no pacote. E agora vou ao correio pagar a sua encomenda, a amizade longínqua com o meu amigo Janeiro fica sempre mais cara que as demais.

Ampexo com estima,
Doutor Mara

Ontem, escrito numa parede da cidade

Antes "Woody Allen" que "Amália".