segunda-feira, 10 de abril de 2023

Tremor: Décima Edição!

          Em 2023, o festival Tremor, evento musical que acontece anualmente na ilha de São Miguel, Açores, atingiu a sua décima edição que decorreu entre os dias 28 de Março e 1 de Abril. Daqui a três anos, é bem provável que a festa será ainda maior já que a cidade de Ponta Delgada será da Capital Nacional da Cultura em 2026. O festival Tremor está, por isso, de parabéns celebrando assim uma década de muita música e envolvimento com a comunidade fazendo chegar à ilha centenas de forasteiros e melómanos oriundos do continente e de vários outros pontos do globo.
Marina Herlop
(Fotografia Carlos Melo)
 
         A festa do décimo aniversário passou pela Ribeira Grande na noite de quinta-feira, com o Tremor a ter lugar na blackbox do Arquipélago com a presença de “Marina Herlop”, uma catalã de corpo e alma. Esta surgiu perante a multidão com uma sonoridade a lembrar “Bjork”, surpreendente na execução instrumental, socorrendo-se de instrumentos pré-gravados e tecnologia variada. Numa hora de espectáculo intenso com audição de temas em línguas diversas e imaginárias, imbuída dum universo estranho e fantasioso. Seguiu-se no mercado desta cidade da costa norte, o concerto dos “Ill Considered”, músicos de tarimba jazzística com grandes pulmões e forte compasso, repletos de energia necessária para a chegada dos festivaleiros.
           Na noite de sexta-feira, marcada por algum frio primaveril, teve direito à actuação no espaço sumptuoso da Igreja do Colégio do músico açoriano Filipe Furtado – em breve fará a primeira parte do sueco “Jay-Jay Johanson” – projectando as suas melodias sussurradas, ao estilo da bossa nova, atingindo o auge na canção “Teresa da Nazaré”, por sinal, avó dele, oriunda do Nordeste, em São Miguel: “Teresa, tua fé/ Conta-me a história do teu primeiro amor/ Como se conquistava da janela/Teresa, Teresa da Nazaré”. Ainda na mesma noite, houve tempo para nos deleitarmos em golfadas de brit-pop, com um trio proveniente de Brighton, os “Penélope Isles”. Os irmãos Jack (guitarra) e Lilly Wolter (baixo), mais o “vizinho universitário” na bateria, incendiaram o Auditório Camões com as suas malhas e rifs de longa duração, permitindo ao publico render-se com a cedência dum aguardado encore.
Filipe Furtado
(Fotografia de Carlos Melo)
           No dia de sábado, última ronda de concertos, manteve-se a crónica ciranda viva de gente em torno dos concertos espalhados pela cidade de Ponta Delgada, com gente muito curiosa e atenta às propostas musicais que os promotores do evento prepararam. À semelhança dos últimos oito anos, há sempre grande expectativa em assistir à junção da Associação de Surdos de São Miguel + Onda Amarela e ainda a Escola de Música de Rabo de Peixe, que contam agora com a designação de “Som, Sim, Zero”. Este ano não foi excepção com o Teatro Micaelense a abarrotar, rendido, totalmente envolvido na performance musical.
       O encerramento da décima edição deu-se, como vendo sendo hábito, no interior do centenário Coliseu Micaelense e, agora, também nas Portas do Mar. No início da noite, o palco foi entregue à voz cálida e esfuziante da angolana “Pongo”, numa celebração de arromba com a vocalista no meio do público, em plena plateia, a dançar o Ku Duro e os presentes entregues aos festejos e serpentinas deste aniversário do Tremor em data redonda, abrindo as portas à onda e desbunda musical dos turcos “Lalalar” no outro lado da cidade. 

Versos de Filipe Furtado

 “Teresa, tua fé/ Conta-me a história do teu primeiro amor."

"Jénifer, ou a princesa da França" de Joel Neto

(Edição Fundação Francisco Manuel dos Santos)

Cine Teatro Açor: Nova Vida?

         Numa ilha onde ver cinema contemporâneo de qualidade na tela grande – seja lá o que isso for – tornou-se uma raridade, melhor, um verdadeiro motivo de festa, razão de regozijo, ou até mesmo surpresa, o aparecimento e visionamento deste objecto documental “Cine Teatro Açor: Passado, Presente e Futuro”, de Isabel Medeiros, Carlota Blanc e Claudio Hochman, resultou, por isso, fundamental e incisivo para compreender o estado atual a que chegou a exibição de filmes e cinema neste reduto insular.
         O Cine Teatro Açor teve origem nos idos anos 40 do século passado na freguesia das Capelas, pela mão de Henrique Costa Melo que, a partir de um celeiro edificou um cineteatro, servindo este, durante décadas, de ponto de encontro da sétima arte em toda a costa norte. A partir dos anos 90, com o aparecimento das cassetes de vídeo e dos canais televisivos, o cinema ficou reduzido a exibições esporádicas e às salas dos centros comerciais, não mais voltando a ter o fulgor de antigamente.  
Foto de Glenn Rovroy em flick.com
                                                   “Cine Teatro Açor: Passado, Presente e Futuro” de Isabel Medeiros, Carlota Blanc e Claudio Hochman é um documento visual comprometido com o local, a freguesia das Capelas, conta com a duração de setenta minutos e começa por dar voz a duas crianças que nos falam sobre o propósito da realização de um documentário e da forma como este pode ser divertido para quem o assiste. Estes chegam, inclusive, a fornecer ideias sobre a sua eventual recuperação e o modo de angariar fundos. É certo que estas agarram o espectador pela forma como estabelecem um diálogo pleno de fantasioso, sendo este um trabalho sensível  de auscultação de memórias, pesquisa e investigação do seu passado, ainda a observação e análise do edifício e dos seus objetos interiores, num registo que reforça sobretudo o caleidoscópio de visões e as possibilidades futuras que o espaço ainda reserva e potencia. Quem responde: ainda há porvir para o Cine Teatro Açor?

Amanhã no Arquipélago