sexta-feira, 30 de abril de 2021

Versos da Natureza Radical de B Fachada

(Quero agradecer a todos os herbívoros

que arriscam diariamente a sua vida e a dos seus

para o bem de carnívoros,

omnívoros, necrófagos e talhantes

Nas barbas do carneiro cornudo

jantam borrego

o saca-rabos e o texugo)

quinta-feira, 29 de abril de 2021

The Kinks de Sebastião Belfort Cerqueira

Um paraíso
Pequeno
Ao fim da tarde
Estou aqui.
Enquanto isto durar

E não preciso 
De ninguém que me aguarde
Noutro lado qualquer 
Algum lugar 

Porque estou aqui 

Sem planos 

Pra viver amanhã

O que hoje não vivi. 

 

in Música Normal, Companhia das Ilhas, 2021. 

terça-feira, 27 de abril de 2021

segunda-feira, 26 de abril de 2021

do Vago Pressentimento Azul por Cima de Ana Paula Inácio

 o que conduz os navegantes para fora do mar?

em solo firme, 

de que firmeza é a zona de que vens

e falas de noite que te lavas os pés

como as mãos que roubam o fruto 

e te culpam na confissão  que acabarás por fazer 

ao morrer 

entrega o cálice, a última gota de veneno 

que te engasga 

como uma delicada pétala de defunto 

num divã de psiquiatra 

onde a natureza  se resume à paisagem morta 

de gosto cristão,

das águas, das bilhas, dos milagres

dos pobres e mendigos 

que te batem à porta 

e espreitam a tua televisão

Reedição de "Vago Pressentimento de Azul por Cima", de Ana Paula Inácio


 

          Saúde-se a junção da música e da poesia. Permita-se o encontro entre um exímio pianista e uma poetisa fulgurante. Enalteça-se o risco, o desafio e a aventura para sugerir novas paisagens sonoras tal como criação de um imaginário poético-musical. Queira-se, assim, uma audição autêntica e uma emoção digna de se poder manifestar. A reedição do livro tem uma capa singela, de tão feliz e tão bela, assinada por Maria João Worm. Trata-se, aqui, da  reedição de "Vago Pressentimento Azul por Cima", edição da Alambique, que contém um CD dentro com dezasseis canções com a direcção musical de João Paulo Esteves da Silva. As canções são cantadas, para lá do pianista, por Ana Brandão e Nazaré da Silva. Fechem os olhos, os ouvidos à escuta, pois, de certeza, que há azul por cima! 

sábado, 24 de abril de 2021

Postal Urgente a Janeiro Alves (antes que Maio Moço Maio entre pela janela)

       Ribeira das Tainhas, fim de Abril.

              Caro Janeiro Alves,

                        Folgo em saber que tem um quarto reservado para mim na sua nova mansão, pois tenciono visitá-lo muito em breve. O dia está próximo, julgo que será no Dia Internacional dos Museus, onde pretendo visitar o seu distinto museu caseiro dedicado aos pequenos brinquedos de madeira com que brincávamos na infância. Fico também feliz em saber que já se encontra a preparar os melhores filetes de peixe para nossa degustação, no entanto, dispenso o espumante Raposeira, dado que ultimamente só consigo saborear o Frescobaldi Pomino, oriundo da minha Toscânia querida. Estou, assim, ansioso por pernoitar em seus aposentos e desfrutar dessas duas raspadinhas e da lata de salsichas do tipo Frankfurt com que me presenteará nas boas vindas. No dia seguinte, após a chapa memorial-repetitiva que imortalizará o nosso pequeno almoço para todo o sempre, regressarei a casa num balão de ar quente. Sei há muito que Janeiro Alves é um apreciador da normalidade e, ainda que pudesse permanecer muito mais tempo, é meu desejo entrar em casa antes do anoitecer.

Termino, assim, este postal com um calo vigoroso no dedo do meio e uma dor de costas intolerável, muito porque que escrevo deitado no chão para que as ideias possam fluir. A propósito do regresso de Miriam ao solar não posso estar mais de acordo consigo, já que acabei de saber que Miriam partiu rumo ao deserto em busca duma liberdade juvenil perdida. Felizmente travei a tempo o meu ímpeto primaveril para me enamorar! Ou será que o deserto é o lugar terapêutico necessário para quebrar com todas as ambições e augúrios terrenos?

                                                                 Ansioso por revê-lo e  com elevada estima,

                                                                                                                  Doutor Mara

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Missiva para Doutor Mara (directamente do salão nobre)

Sintra, Abril de 2021

Caro Doutor Mara,

Foi com moderada mas sincera comoção que recebi a notícia da chegada da sua carta pela minha governanta Maria da Conceição. Ainda com uma singela lágrima a escorrer-me pelo rosto, vesti o meu paletó brasileiro e servi-me da melhor reserva de Macieira, ansioso por notícias suas. Denotei que sucumbiu aos prazeres bucólicos, regredindo às missivas de cariz poético, algo confusas e pouco esclarecedoras do seu estado actual. Conheço muita gente ligada ao comércio e indústria, que agora em cativeiro sofre por se ver impedida de falar da vida alheia. Bastou-me por isso dois ou três telefonemas para saber ao certo a sua degradante situação. Soube do seu recente vício em raspadinhas, e como essa circunstância o colocou numa posição de falência técnica e moral.  Presumo até que os cem euros que lhe emprestei há uns anos para comprar um esquentador inteligente se tenham transformado em papelitos de raspar. Não admira que não lhe sobre pilim para a conta da electricidade. O Doutor Mara tem de pedir ajuda e sair rapidamente dessa situação calamitosa. Infelizmente neste momento não o posso ajudar, pois já tenho coisas combinadas.

Apesar de toda a situação, acredito na utilidade desta carta no sentido poder vir a ser inspiradora.  Andei efectivamente em Foz Côa a passear. Porém foi uma visita fugaz. Nessa época estava ali perto, instalado num hotel termal de grande gabarito nacional, onde fiz tratamentos de rejuvenescimento com resultados visíveis na pele e no couro cabeludo. Imagine o Doutor Mara, que tenho andado a viver de rendimentos. A eleição da minha obra “Compêndio Geral de Plantas Exóticas” como a pior do ano deu-me alguma exposição e nos meses subsequentes vendi milhares de exemplares. Foi uma espécie de “Engano no banco a seu favor, receba dois contos”. Comprei a antiga mansão dos Manaias em Sintra, e tratei de contratar alguns subalternos referenciados pelas melhores casas de tradição pequeno-burguesa: um motorista, um jardineiro, uma governanta, uma cozinheira, uma sopeira (adoro uma boa sopa), uma camareira e uma equipa para as limpezas. Tenho já um quarto reservado para si, Doutor Mara. Caso me queira visitar em breve, tratarei de providenciar para o nosso jantar os melhores filetes acompanhados de uma magnífica Raposeira. Os seus aposentos serão preparados com todo o rigor, e terá como recepção de boas vindas um pequeno cabaz com duas raspadinhas, uma lata de salsichas do tipo Frankfurt, um kit das unhas e um saco para vomitar. No dia seguinte, após o pequeno almoço tiraremos a habitual fotografia de despedida, onde apertaremos a mão enquanto sorrimos simbolicamente para a objectiva. Por fim, o meu motorista o conduzirá para fora da propriedade, enquanto eu permaneço estático, acenando com um lenço de cornucópias à medida que o carro se afasta. Logo após, tudo voltará à normalidade. Aguardo resposta positiva a este convite, Doutor Mara.

Acabo esta carta com um trejeito apreensivo no rosto, e uma das sobrancelhas ligeiramente levantada. É que esse regresso de Miriam ao solar cheira-me a esturro, a mata queimada, a uma indigestão emocional, enfim, a uma primavera de destroços que alastra no seu coração. Não se deixe enganar, Doutor Mara! Ela só quer fazer raspadinhas consigo.

                                                                                    Com sobranceira amizade,

                                                                                                            Janeiro Alves

Elementos da Fauna Açoriana

 "Se examinarmos apenas os animais que vivem sobre o próprio solo destas ilhas, descobrimos que os mamíferos, os répteis e os peixes são aqui de uma pobreza extrema; os pássaros, mais numerosos e variados, mas dotados de órgãos particulares de locomoção que favorecem grandemente a sua propagação, apresentam também um grau superior de interesse. Os moluscos terrestres ou pulmonados, estudados de uma forma mais aprofundada, é certo, do que as outras classes, são, de todos, salvaguardadas as devidas proporções. os animais mais abundantes  e mais marcantes do arquipélago; apenas no seio desta classe é que aparece  uma série de tipos especiais, aborígenes  e dotados de uma fisionomia particular. Os insectos, os aracnídeos, os crustáceos, os anelídeos, terão de ser submetidos a uma observação  mais aprofundada para que seja possível fazer-se a seu respeito  um julgamento equitativo, o mesmo se aplica aos equinodermes, aos briozoários e  aos polipeiros, que talvez sejam, juntamente com os moluscos terrestres, os pássaros e os peixes marinhos, as classes animais mais dignas da atenção do naturalista nestas paragens."

 Henry Drouët in "Èléments de la Faune Açoriénne", 1861, retirado do livro "Viajantes nos Açores", de Maria das Mercês Pacheco, edição Artes e Letras, 2021. 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

The Velvet Underground

Sou um sol preguiçoso

Como embarquei 
He-de desembarcar 

Sem jeito para o negócio
À beira-mar 

Sebastião Belfort Cerqueira in "Música Normal", edição da Companhia das Ilhas, 2021. 

Ínfima Ilha

                         Fotografia de Carlos Olyveira

terça-feira, 20 de abril de 2021

Uma bela história, não interessa se verdadeira ou não.

"Umberto Eco conta que, quando andava na Universidade de Turim, via todas as peças de teatro, as clássicas e as contemporâneas, no edifício municipal, entrando praticamente sem pagar. No entanto, como estava na residência universitária tinha de regressar a tempo de o deixarem entrar – a residência fechava cedo – e por isso nunca via os últimos quinze minutos das peças.
Nunca sabia, então, como terminavam as grandes peças contemporâneas.
Umberto Eco conta que, tempos mais tarde, fez amizade com Paolo Fabbri, um outro estudante, que “para ganhar algum dinheiro” trabalhava no teatro, a controlar as entradas e os bilhetes e, por isso, nunca via os primeiros quinze minutos das peças. Assim, conta Eco, a certa altura, ele contava o início das peças e Paolo descrevia-lhe os finais das peças.
Ficavam a saber o que acontecia pela narração do outro.
Uma bela história, não interessa se verdadeira ou não.”

 inOs Cadernos e os Dias, História Fragmentada do Mundo”, de Gonçalo M.Tavares, Revista Expresso, 16 de Abril de 2021.

sábado, 17 de abril de 2021

Abril no Almanaque do Camponez

         A aurora principia às 04h, e 17m.O Sol nasce às 07h. e 23m. De 1 a 30, os dias crescem 1h. e 12 minutos.

      O signo que domina de 22 deste mês até 21 de Maio é o Taurus e o Planeta Vénus. Promove ventos centrais secos e melancólicos. No crescente, semeia pevides de melão, melancia, cabaça, pepino, alface, milho, feijão, couve-flor, rabanetes, abóboras e tomates; planta em terra fraca e bem adubada, batata doce; enxerta; planta morangueiros, evitando o estrume de besta; sacha e pulveriza os batatais e deita-lhes bastante cinza para teres boa batata; tosquia o gado lanígero.

in Almanaque do Camponez, Repertório Crítico, Cómico e Prognóstico,104º ano de Publicação para 2021, fundado por Manuel Joaquim de Andrade.

O Sol (ainda) Escondido

                      Fotografia de Carlos Olyveira

sexta-feira, 16 de abril de 2021

"Para os Açores ou para o Inferno"

      "Regressada a paz aos oceanos, Knud sente a necessidade de voltar a velejar para recolher material para a sua escrita e traça um objetivo: Açores. Finalmente chegara a hora de visitar as “ilhas abençoadas e temíveis”. Sonda marinheiros que vai encontrando para saber mais sobre o arquipélago, mas não consegue mais do que histórias ouvidas e recontadas. Toda a viagem é preparada a partir das informações que recolhe nas bibliotecas e enciclopédias. Toma notas sobre tudo o que lê: história, cultura, clima, geografia e geologia. Procura um veleiro e a escolha recai sobre o Sejleren, mais uma vez um velho pesqueiro sueco de onze metros. Os planos revelam-se difíceis, o núcleo familiar alargara-se e a guerra consumira recursos. Os preparativos e os custos da equipagem exigem agilidades financeiras, mas não terá sido difícil convencer a família Andersen, toda ela contagiada pela folia do mar e cansada das insanidades e provações da guerra. Um revés de última hora ameaça a viagem, as autoridades consulares portuguesas negam os vistos de entrada e, perante a insistência de Knud, ameaçam mesmo com a detenção ao primeiro desembarque em porto nacional. O escritor não se deixa abalar, embarca a família no Sejleren juntamente com livros, instrumentos musicais e jogos. Escreve a primeira entrada no diário de bordo: “Para os Açores ou para o Inferno! Dia 16 de abril de 1947, 12:00 horas”. Está dado o mote de partida. Knud tinha então 57 anos e esta seria a sua última grande viagem oceânica."

in "A Folia do Mar" de Elísio Marques e ilustração de André Chiote, in Revista FALTA nº2.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Retrospectiva de Peter Casper na Galeria Camarupa, Ilha do Faial


       Peter Casper é nome de artista do mundo, ainda que já tivesse sido das ilhas. Ele vive em Lisboa e tem uma retrospectiva dos seus trabalhos na Galeria Camarupa, sediada na Horta, Ilha do Faial. A Douta Melancolia contactou Peter Casper minutos antes dele ir ao barbeiro, aparar a franja do seu cabelo.



Doutor Mara: Uma pergunta para um milhão de euros: a arte tenta imitar a vida?

Peter Casper: Eu diria que a arte tenta perceber a vida.

DM: Nós, portugueses, somos os responsáveis pela invenção do Nónio, a Geringonça, o Pastel de Belém, a Caixa Multibanco e a Via Verde. O que é que ainda é possível inventar?

PC: Tendo em conta que a maioria das invenções que o Doutor Mara refere são praticamente contemporâneas, podemos deduzir que o espírito criativo do português não cessará com tal fugacidade.

DM: Sei que Peter Casper não considera a atitude estética uma disposição, mas sim um ato, porquê?

PC: Eu diria que é um acto que temos à nossa disposição. Uma atitude estética não é necessariamente uma acção criativa. Poderá ser contemplativa ou reflexiva, e poderá (ou não) vir a resultar num produto final palpável.

DM: Peter Casper disse um dia: "a satisfação de desejos e necessidades está sempre presente em quem cria, escreve, pinta, toca, assim como em quem observa, lê, escuta". Isto significa que não existe arte desinteressada?

PC: Sim. Em primeira instância, o processo criativo propõe-nos problemas para os quais devemos arranjar soluções. Antes de desafiarmos o olhar do público, temos de desafiar o nosso. Cada vez é mais urgente essa auto-provocação para estarmos mais cientes do nosso lugar na sociedade.

DM: O que é uma experiência estética real, concreta e verdadeira, para Peter Casper?

PC: Não há experiência estética mais concreta e verdadeira do que a pura contemplação da natureza.

DM: Peter Casper, tal como dizia Segismundo Freud e António Lobo Antunes, a arte é a infância fermentada. Corrobora?

PC: Concordo. Sou uma pessoa muito infantil. Gugu Dada.

DM: Depois de observar a sua pintura, parece que há um fascínio particular pelo primeiro gesto, a pulsão inicial dos criadores, o toque vibrante dos debutantes. É isso que procura, o gesto primacial ou fundacional?

PC: Sim. Tudo o resto é excedência, como um manto de nevoeiro que se adensa à medida que nos afastamos do nosso objecto de desejo.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Recital de Poesia na Biblioteca Pública da Horta

 


Missiva para Janeiro Alves (tendo como pano de fundo um campo de margaridas)

                                                                                    Algures a meio do Atlântico, Abril de 2021

Caro Janeiro Alves,

 Espero que o amigo Janeiro se encontre bem de saúde! É Primavera e, por isso, caminhe-se na senda do seu vigor e potencial adquirido, rumo à sua máxima expansão! Em breve vaguearão por aqui jangadas de cagarros e faço questão de me aproximar da orla marítima só para os ouvir “falar”. Faz agora um ano em que sucumbi à luz elétrica e à carência de comunicações com o exterior, tendo valido os jovens cagarros à noitinha para me confortar da ausência humana.

A última notícia que tive sua, fiquei atónito! Uma pessoa credível contou-me que o meu amigo tinha ido passar o ano a Foz Côa numa autocaravana e que aí tinha permanecido.  Fiquei, assim, a saber que dormitou junto das gravuras rupestres, que bebeu água pura e fresca, que perambulou e pintou ao pôr do sol, para além de ter passado as noites acompanhado pelas castas Touriga Franca, Tinta Roriz e Touriga Nacional.  Deve ter sido um banho de cultura adâmica. Imagino, pois, o meu amigo a respirar todo o esplendor da arte ancestral na tentativa de encontrar inspiração para esse vanguardismo primitivo, que agora nos apresenta em retrospectiva na ilha azul.  

Curiosamente, roda neste momento no meu gira-discos, um álbum novo - “Voz de Veludo”, da cantora italiana “Áugure”, a adivinhadora, uma homenagem aos que ditavam presságios. A capa tem um V maiúsculo sobre um desenho de uma escala de índole económica. Enquanto o disco vai tocando, fixo-me no seu tema mais romântico e pungente – Apartar – “Estou afastada e solitária/ Não é desespero ou calvário/ Lento voo, fogo fátuo/ Vou daqui rumo ao espaço/”. Penso, por instantes, em todos os momentos vividos, nas dores consumidas e extintas, agora que vamos lentamente abrindo os olhos, espreitando os corpos que se movimentam em redor, perdidos que estivemos nesse labirinto de memórias e afastamento.    

Outra novidade é o facto de Miriam ter voltado a viver na cave do solar, pedindo-me muitas vezes para controlar a minha intensidade vocal evidenciada na excitação matinal, sobretudo desde que me retiraram a saudável esbórnia de outrora. Miriam está linda e contou-me, entretanto, querer voltar a passear comigo junto destes campos ornados de margaridas. É bonito, não é?

                                                                                                   Com superlativa estima,

 Doutor Mara  

terça-feira, 13 de abril de 2021

Do Trabalho

"Às escuras e em silêncio é que se trabalha."

                                                                                                                            Lourdes Castro 

sábado, 10 de abril de 2021

Da Vida

" Nascemos, crescemos e morremos sozinhos. O amor e a amizade dão-nos a ilusão do contrário."                                                                                                  Orson Welles

quarta-feira, 7 de abril de 2021

PETRA, um filme de Jaime Rosales


      Um filme que pretende ser um mergulho na  própria identidade de Petra. Subitamente, tudo muda. De repente e, como se de uma cebola se tratasse, vai sendo revelada a verdade. Afinal, a verdade e a beleza sempre foram as missões clássicas da arte e não o dinheiro. Ê isso que este "Petra" nos revela, a arte não está confinada ao mercado mas sim a uma ideia profunda de verdade que todos transportamos.e...sem ressentimentos. 

domingo, 4 de abril de 2021

FLO & EDDIE

Com o tempo

Tornámo-nos bons a ser roubados

Enganados

A ver cair no chão as nossas coisas

Vê-las desaparecer entre a caruma

 

Pega na tua flor

E vai mostrá-la ao mundo

Não esperes receber porra nenhuma


Sebastião Belfort Cerqueira, in "Música Normal", Companhia das Ilhas, 2021.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Viajantes nos Açores

"O Arquipélago dos Açores constitui actualmente uma das mais prósperas províncias do reino de Portugal. Um grande número de factores contribui para o crescimento incessante de uma riqueza generalizada. Um clima ameno, um solo fértil, uma situação geográfica eminentemente favorável ao desenvolvimento de relações comerciais, uma população inteligente e laboriosa, uma administração liberal e benevolente são elementos de prosperidade – uma dependendo da acção do homem, outros inerentes à própria Região. A estas vantagens juntam-se as maravilhosas belezas naturais de que os Açores disfrutam."

             Ferdinand Fouqué, excerto de “Les Eaux Thermales de L´Ile de San-Miguel”, 1873, in Viajantes nos Açores” de Maria das Mercês Pacheco, edição Artes e Letras, 2021.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Canção Normal (Cole Porter Interpreta Martin Mull)

 Vamos ser normais

Amor

Para quê querer mais

Amor?

Vamos ser normais no dia-a-dia 


No quotidiano

Amor

E ao longo do ano

Amor

Ser tradicionais

Amor

E ser mais normais que a tua tia


Vamos ler jornais

Amor

Ser como os teus pais

Amor

Fazer como o pai dos pais fazia

 

Para quê tanto ardor

Amor?

 Vamos perder cor

Amor

E até no amor

Amor

Abracemos a monotonia.

 

Sebastião Belfort Cerqueira, in “Música Normal”, edição Companhia das Ilhas, 2021.