quinta-feira, 15 de abril de 2021

Retrospectiva de Peter Casper na Galeria Camarupa, Ilha do Faial


       Peter Casper é nome de artista do mundo, ainda que já tivesse sido das ilhas. Ele vive em Lisboa e tem uma retrospectiva dos seus trabalhos na Galeria Camarupa, sediada na Horta, Ilha do Faial. A Douta Melancolia contactou Peter Casper minutos antes dele ir ao barbeiro, aparar a franja do seu cabelo.



Doutor Mara: Uma pergunta para um milhão de euros: a arte tenta imitar a vida?

Peter Casper: Eu diria que a arte tenta perceber a vida.

DM: Nós, portugueses, somos os responsáveis pela invenção do Nónio, a Geringonça, o Pastel de Belém, a Caixa Multibanco e a Via Verde. O que é que ainda é possível inventar?

PC: Tendo em conta que a maioria das invenções que o Doutor Mara refere são praticamente contemporâneas, podemos deduzir que o espírito criativo do português não cessará com tal fugacidade.

DM: Sei que Peter Casper não considera a atitude estética uma disposição, mas sim um ato, porquê?

PC: Eu diria que é um acto que temos à nossa disposição. Uma atitude estética não é necessariamente uma acção criativa. Poderá ser contemplativa ou reflexiva, e poderá (ou não) vir a resultar num produto final palpável.

DM: Peter Casper disse um dia: "a satisfação de desejos e necessidades está sempre presente em quem cria, escreve, pinta, toca, assim como em quem observa, lê, escuta". Isto significa que não existe arte desinteressada?

PC: Sim. Em primeira instância, o processo criativo propõe-nos problemas para os quais devemos arranjar soluções. Antes de desafiarmos o olhar do público, temos de desafiar o nosso. Cada vez é mais urgente essa auto-provocação para estarmos mais cientes do nosso lugar na sociedade.

DM: O que é uma experiência estética real, concreta e verdadeira, para Peter Casper?

PC: Não há experiência estética mais concreta e verdadeira do que a pura contemplação da natureza.

DM: Peter Casper, tal como dizia Segismundo Freud e António Lobo Antunes, a arte é a infância fermentada. Corrobora?

PC: Concordo. Sou uma pessoa muito infantil. Gugu Dada.

DM: Depois de observar a sua pintura, parece que há um fascínio particular pelo primeiro gesto, a pulsão inicial dos criadores, o toque vibrante dos debutantes. É isso que procura, o gesto primacial ou fundacional?

PC: Sim. Tudo o resto é excedência, como um manto de nevoeiro que se adensa à medida que nos afastamos do nosso objecto de desejo.

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