segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

sábado, 26 de fevereiro de 2022

"A Água Corre para o Mar" em Exposição

     
       Aí está, nas paredes do Centro de Artes Contemporâneas - Arquipélago, o produto final dos trabalhos das turmas do 2ºciclo da Escola Básica Integrada da Maia e da Escola Rui Galvão de Carvalho com o título "A Água Corre para o Mar". O convite surgiu há dois anos, quando sob o signo da criatividade, a Cresaçor e o Museu Carlos Machado decidiram explorar o património inerente à Maia e de Rabo de Peixe convidando as respetivas escolas. Acresce a tudo isso, a colaboração do Plano Nacional das Arte e o Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, que perspectivaram e refletiram esta afinidade comum. Por último, surge Cláudia Varejão que acompanhou o projecto, enquanto artista residente, agregando professores e alunos, exponenciando esse único desiderato. O resultado pode ser visto a qualquer hora da semana em que o espaço se encontre aberto e, com toda a confiança, vale bem a pena! 

Um Verso de Bono Vox

And if you save your love, save it all, save it all  

sábado, 19 de fevereiro de 2022

"À Sombra dos Jacarandás" de Ana Hatherly

Porque estou assim
tão melancólica
quando os jacarandás
derramam seu lilás
pelas ruas onde eu caminho
tão de azul
tão cheia de olhos para tudo?

O chão é duro
ó corolas!

O basalto das funduras
atormenta-nos os passos

in Itinerários, Quasi Edições, Março de 2003

Da Classe Social

    "Penso que a Psicanálise nos impede de ver a realidade dos fenómenos que nos estruturam. É a questão da classe social que me determina, muito mais que a relação individual com o meu pai e a minha mãe." 

Didier Eribon, Revista Electra, nº14, Outubro de 2021. 

Os Filhos da Madrugada: Vitor Cardoso

      "Eu não sou político, não vou fazer afirmações políticas. Mas creio que era quase impossível (ter o mesmo percurso). Teríamos de ajudar a família. As famílias eram enormes para ajudar os pais. A partir desse momento (democracia) houve o abono de família. Lembro-me das minhas senhazinhas para comer na cantina. Lembro-me do meu passe escolar que me permitia andar de autocarro."

in "Os Filhos da Madrugada", Anabela Mota Ribeiro, Temas e Debates, Novembro de 2021. 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

"Rock n Roll Consciência - Letras”, de Thurston Moore ao Cair da Tarde


            Dou por mim a ler um caderno antigo que me acompanhou no regresso à ilha onde agora habito e fixo uma citação do músico norte-americano, Thurston Moore, fundador dos Sonic Youth, ao “Açoriano Oriental”, a 1 de Março de 2016, aquando da sua passagem por aqui: “A primeira coisa para que me alertaram quando cheguei aqui foi para o estado do tempo, com as quatro estações a acontecerem no mesmo dia. Fiquei espantado, mas já me apercebi que é mesmo assim: o sol, a chuva, o céu azul, ou o céu nublado podem caber num intervalo de apenas seis horas…contudo achei logo os Açores um óptimo lugar para a inspiração. Pelo que me dizem, esta é uma terra de poetas e sempre me interessei pelos lugares que levam as pessoas a escrever e sobre os ambientes que as inspiram.”. Lembro-me, portanto, de ver este músico em cafés que eu próprio frequentava, numa postura acessível de quem sabe que a fama do rock sónico não rimava com ilha verdejante de tempo lento, para lá das variações climatéricas a meio do atlântico.
     Entretanto, estamos no final de mais uma semana e, ao cair da tarde, recebo um telefonema de uma amiga de visita à cidade, a convocar-me para reencontro. Eis que chego já tarde ao local combinado e, em cima da mesa da livraria da respeitada instituição, avisto um livro com o título “Rock n Roll Consciência - Letras”, de Thurston Moore, realizado na Tipografia Micaelense, com os dizeres na contracapa de edição com apenas 100 exemplares, todos eles assinados pelo autor. Folheio o livro, ávido e atónito com a impressão em tipografia, observo as canções nas duas línguas e contemplo as fotografias do livro (uma paisagem, uma árvore, o respetivo músico sentado na soleira de casa de pedra, uma fotografias de composição na tipografia e uma do tipógrafo Diniz Botelho). De imediato, pergunto o preço do livro aos funcionários da livraria que, após alguma demora, alegremente soltam a resposta; “-É gratuito!”. Saio para esse reencontro do café com chocolate com uma sensação de ter encontrado um tesouro, provavelmente um acaso carregado de simbolismo, cinco anos depois. Desconhecia tal feito, eu que observei ao longe a passagem pela ilha de tão ilustre personagem do mundo sónico, não fazia ideia de tal publicação. Talvez, por esse motivo, sinto-me agora agradecido. No entanto, o meu amigo, Diniz Botelho, mestre de tipografia, já cá não se encontra, e, esse, sim, era uma pessoa a quem me habituei a agradecer! Em consciência!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Um Verso de Adoniran Barbosa

 Não posso ficar nem mais um minuto com você

"Cataratas" de Jorge Sousa Braga

    Nenhum rio consegue voar durante muito tempo. Uns segundos no máximo e ei-los se despenham de muitos metros de altura. Ainda mal refeitos da queda começam logo a correr a uma velocidade vertiginosa. E de novo se despenham. E só desistem quando se lhes depara o mar pela frente.

in "O Poeta Nu", Poesia Reunida, Assírio&Alvim, Junho 2007

Do Amor

     "Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama."

Agostinho da Silva 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Laudalino Pacheco da Ponte: o retratista da Maia!


        A Maia é uma freguesia da ilha de São Miguel com 1900 habitantes e conta com a Fábrica de Chá da Gorreana e o Museu do Tabaco. Era lá que vivia o Laudalino da Ponte, conhecido também pelo “retratista” da Maia. Laudalino da Ponte trabalhou durante muitos anos na Fábrica de Tabaco da Maia e, como atividade preferencial nas horas livres, gostava de fotografar pessoas, tirar retratos. A pé ou de mota, sempre com a sua máquina fotográfica ao peito, calcorreava a ilha e aproveitava para registar todas as celebrações de vida: baptizados, casamentos, aniversários, matanças do porco e festas do Espírito Santo. Era comum pedir às pessoas, aos locais, para serem fotografados. O seu espólio anda à volta de 157 mil fotografias e este conjunto vai de 1963 até 1975.  A Margarida Medeiros reuniu este "corpo fotográfico" que se encontra reunido neste livro, quase dois anos a compilar doze anos de imagens. O mundo de Laudalino da Ponte parece não existir mais, ainda que aquelas pessoas nos pareçam tão próximas e familiares. A edição deste livro é um gesto de delicadeza a uma comunidade, o enaltecimento da vida de alguém que documentou uma época, um período histórico específico, fixando uma experiência existencial numa ilha atlântica. Lá dentro, para além das fotografias a preto e branco, há textos de Maria Emanuel Albergaria e João Leal. A Blanca Martin Calero e a Araucária Edições (https://araucaria.pt/
) estão, obviamente, de parabéns!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Os Filhos da Madrugada: Rita Rato

       “Era um espaço muito aberto (Biblioteca Municipal), aonde podíamos ir buscar livros, descobrir coisas que não tínhamos, onde fiz trabalhos de grupo. Felizmente sempre vivi em casas onde existiam livros. Alguns amigos, os únicos livros que tinham em casa eram livros de escola. Estamos a falar do final dos anos 80. Também havia acesso a um conjunto de ofertas culturais. A primeira vez que fui ao teatro e vi a Maria do Céu Guerra foi em Estremoz, não foi em Lisboa. A primeira vez que ouvi ópera foi em Estremoz. O poder local permitiu isso. Uma política cultural e desportiva muito próxima das pessoas. Sinto que ter nascido em 1983 e não ter nascido em 1963, foi transformador na minha vida.”

in "Os Filhos da Madrugada", de Anabela Mota Ribeiro, Temas e Debates e Círculo de Leitores, Novembro de 2021.

"Os anos 20 um século depois" de Bradley W.Hart

"Os anos 20 nasceram então no meio de mortalidade a uma escala insondável. Em nenhum outro lugar isto se encontra mais bem reflectido do que na arte da época. Enquanto alguns artistas trataram directamente o assunto da Gripe, Eduard Munch nos seus Auto-Retrato com a Gripe Espanhola e Depois da Gripe Espanhola, ilustra dramaticamente o preço a pagar pela doença, representando-se como um espectro. Tratar a violência do conflito era mais comum. Na Alemanha devastada pela guerra e pela hiperinflação, os expressionistas utilizavam os seus talentos para retratar o horror puro, com Der Krieg, as gravuras de Otto Dix, a representarem o mais tenebroso dos exemplos. O Expressionismo não era apenas sobre tragédias do passado, era também sobre o presente e o futuro. Não foi por acaso que a arte expressionista sofreu fortes críticas por parte dos conservadores alemães, tendo sido totalmente proibida e confiscada pelos nazis em 1937.
   Esse fenómeno não se circunscreveu à Alemanha – por toda a Europa, durante os anos 20, os artistas começavam a romper com convenções e “regras”, Matisse e Picasso, entre outros, aproximaram-se dos estilos e cores pelos quais são famosos nos nossos dias. Encontramos uma crítica semelhante ao mundo de antes da guerra dos anos 20 no movimento Bauhaus. Em meados da década, Walter Gropius e seus associados tinham introduzido princípios radicais de design que ainda hoje mantém a capacidade de nos chocar. Estes projectos faziam bem mais do que romper com as tradições artísticas do período clássico ou com os estilos arquitectónicos cada vez mais datados que durante tanto tempo dominaram a Europa. Tratava-se de construir um futuro liberto da morte e destruição do passado."

in Electra, nº12, Primavera de 2021.

Um Verso dos Echo & Bunnymen

Under a blue moon I saw you 

"A Débil" de Cesário Verde

Eu, que sou feio, sólido e leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal

Sentados à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorreste um miserável
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir à garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável. 

Os Filósofos e o Amor

     "Frase curiosa e delicada, "no amor, ao mesmo tempo que nos revelamos a nós mesmos, é um outro que nos é dado com a sua história, as suas possibilidades, o seu universo. Isso é-nos sempre oferecido envolto em mistério, o outro é-nos simultaneamente próximo e estranho, senão já não seria outro. Observarmos o nosso amante, sentimo-lo como uma evidência, quase como uma extensão de nós mesmos e no entanto perguntamo-nos o que pensará ele, o que sentirá, quem é ele, no fundo."

in "Os Filósofos e o Amor" de Marie Lemonnier e Aude Lancelin, tradução de Carlos Vaz Marques, edição da Tinta da China, Maio de 2010.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Tendencialmente Ridículos

    "Ando há uma semana com um cano a pingar na garagem. E ainda não consegui encontrar um canalizador com disponibilidade para vir aqui. Mas pobre do filho que diga aos pais que vai tirar um curso profissional de canalizador e que dispensa bem seguir para a universidade. É como se tivéssemos dividido a sociedade em castas consoante o grau académico e a profissão de cada um. E isso é deprimente a todos os níveis. Há sabedoria em todos nós. Há dignidade em cada um. Ninguém é melhor do que ninguém pelo apelido que carrega ou pelo local de nascimento. Ninguém passa à frente de ninguém porque emoldurou três diplomas na parede do escritório.  
    Mas a gente não se consegue livrar disto. Do "bom dia, sotor", do "deseja um cafezinho, sotor?", do "ponham lá o sotor num quarto individual". Não conseguimos arrancar da pele este servilismo que anos de miséria e ditadura nos tatuaram. E nem nos apercebemos de que somos risíveis nas nossas formalidades e nos nossos doutorismos. Estamos cegos, digo eu. È cultural, dirão outros. O respeitinho é muito bonito dirão os que nunca conseguiram desprender-te do sentimento de inferioridade ou, no outro extremo, os que acreditam que "dantes" é que era.
    Sabem, cada vez mais acho que somos um povo tendencialmente bom. Pena que também sejamos tendencialmente ridículos."

in Jornal Público, Carmen Garcia, P2, 30 de Janeiro de 2022. 

Da Ornitologia...

 "Empresa sueca contrata corvos para apanhar pontas de cigarros"

in Diário dos Açores, 3 de Fevereiro de 2022.

Um Verso de David Bowie

We can be Heroes, just for one day

Os Filhos da Madrugada: Joana Cabral

     "A forma como uma pessoa é educada, num ambiente de liberdade, permite, também, à mente, ser mais criativa e expansiva. Quando uma pessoa cresce num meio castrador, desenvolve-se, não é stresse pós-traumático, mas, do ponto de vista do pensamento, a pessoa tem medo de ter ideias diferente, de questionar. É muito importante isso e a busca da verdade. Não haver uma resposta."

in "Os Filhos da Madrugada", de Anabela Mota Ribeiro, Temas e Debates e Círculo de Leitores, Novembro de 2021. 

"Avenida da Liberdade" de Alexandre O´Neill

Subamos e desçamos a Avenida da Liberdade,
enquanto esperamos por uma outra 
(ou pela outra) vida