segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

"Os anos 20 um século depois" de Bradley W.Hart

"Os anos 20 nasceram então no meio de mortalidade a uma escala insondável. Em nenhum outro lugar isto se encontra mais bem reflectido do que na arte da época. Enquanto alguns artistas trataram directamente o assunto da Gripe, Eduard Munch nos seus Auto-Retrato com a Gripe Espanhola e Depois da Gripe Espanhola, ilustra dramaticamente o preço a pagar pela doença, representando-se como um espectro. Tratar a violência do conflito era mais comum. Na Alemanha devastada pela guerra e pela hiperinflação, os expressionistas utilizavam os seus talentos para retratar o horror puro, com Der Krieg, as gravuras de Otto Dix, a representarem o mais tenebroso dos exemplos. O Expressionismo não era apenas sobre tragédias do passado, era também sobre o presente e o futuro. Não foi por acaso que a arte expressionista sofreu fortes críticas por parte dos conservadores alemães, tendo sido totalmente proibida e confiscada pelos nazis em 1937.
   Esse fenómeno não se circunscreveu à Alemanha – por toda a Europa, durante os anos 20, os artistas começavam a romper com convenções e “regras”, Matisse e Picasso, entre outros, aproximaram-se dos estilos e cores pelos quais são famosos nos nossos dias. Encontramos uma crítica semelhante ao mundo de antes da guerra dos anos 20 no movimento Bauhaus. Em meados da década, Walter Gropius e seus associados tinham introduzido princípios radicais de design que ainda hoje mantém a capacidade de nos chocar. Estes projectos faziam bem mais do que romper com as tradições artísticas do período clássico ou com os estilos arquitectónicos cada vez mais datados que durante tanto tempo dominaram a Europa. Tratava-se de construir um futuro liberto da morte e destruição do passado."

in Electra, nº12, Primavera de 2021.

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