Após leitura, no verão passado, de "Em Tudo Havia Beleza", Alfaguara, editado em 2019, quis muito ler o que o escritor Manuel Vilas tinha escrito a seguir. Desafio que à partida parecia simples, irrisório, dado o entusiasmo do livro anterior, e que, por isso, fui procurar ler o livro "E, de repente, a alegria", Alfaguara, 2020, começando aí a saga da sua acquisição e posterior leitura. Coisa complicada como se veio a provar. Em todas as livrarias em que fui entrando obtive um sorriso e o lamento pela inexistência deste objecto literário. Uns foram dizendo que o livro estaria esgotado, outros que demoraria a ser reposto, tal como poderia efectuar o pedido e ficar a aguardar pelo seu aparecimento na caixa do correio. Nada feito. O tempo foi passando e, animado pela vontade de encontrá-lo numa estatante de uma biblioteca, aguardei pacientemente por um acaso ou surpresa. Recentemente, no regresso à terra de nascimento e casa paterna, decidi entrar numa livraria, insistir de novo e tentar a minha sorte. E, eis que de repente, através de uma livreira atenta e informada, adquiri o livro que me devolveu a alegria do reencontro com este autor.
quarta-feira, 16 de abril de 2025
Quem Procura Sempre Encontra
A Piedade do Tempo
Em que escuro recanto do tempo que morreu
vivem ainda
a arder, aquelas coxas?
que voltam agora a ser o milagre que foram:
desejo de uma carne, e a alegria
do que não se nega.
vivem ainda
a arder, aquelas coxas?
Dão luz ainda
a estes olhos tão velhos e enganados,que voltam agora a ser o milagre que foram:
desejo de uma carne, e a alegria
do que não se nega.
A vida é o naufrágio de uma obstinada imagem
que já nunca saberemos se existiu,
pois só pertence a um lugar extinto.
que já nunca saberemos se existiu,
pois só pertence a um lugar extinto.
Francisco Brines, in A Última Costa, Assírio&Alvim, 1997.
Cipreste
havia um cipreste
vi que caminhaste
e te despiste
(a roupa na sombra da árvore
dependurada do nada)
o leito agreste
e mergulhaste.
nadaste
depois saíste.
in Poemas em Peças, Coleção Quase Dito, Fevereiro, 2014.
Sem Sair do Lugar
(...) Sabemos que a intensidade da luz concentra hormonas que vão alterar os níveis da água nas células do tecido vegetal e, portanto, levam as plantas a inclinarem-se em direção à fonte de luz. As plantas podem parecer levar vidas não tão complexas como a dos animais, especiamente porque não se podem mover, no entanto, elas encontram formas, também complexas, para o seu estilo de vida, do que é uma vida imóvel. E arranjaram formas de como se reproduzirem, de como competirem umas com as outras por recursos, de como se adaptarem ao seu ambiente, de como evitarem e defenderem-se daqueles que as consomem, como os herbívoros, sem mobilidade, sem sair do seu lugar. E embora não possam mover-se, as plantas podem alterar a sua estrutura em resposta às mudanças do ambiente. E esta alteração de parte ou de todo organismo tem um nome, que se chama: tropismo. E o facto de algumas plantas como o girassol procurar a luz e mover-se com a luz, significa que tem tropismo.
Luísa Ferreira Nunes, Lições Naturais, Podcast do Público, Março 2025.
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