quarta-feira, 16 de abril de 2025

A Piedade do Tempo

    Em que escuro recanto do tempo que morreu
vivem ainda 
a arder, aquelas coxas? 
Dão luz ainda 
a estes olhos tão velhos e enganados,
que voltam agora a ser o milagre que foram:
desejo de uma carne, e a alegria 
do que não se nega. 
    
    A vida é o naufrágio de uma obstinada imagem
que já nunca saberemos se existiu,
pois só pertence a um lugar extinto.  

Francisco Brines, in A Última Costa, Assírio&Alvim, 1997.

Sem comentários:

Enviar um comentário