quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O Beijo

Um rapaz beijou-me ontem à tarde
E o seu beijo era um vinho perfumado
Tão longamente bebi nesses lábios o vinho do amor
que ainda agora me sinto embriagado

Anónimo, Grécia, Séc. I a.c
Tradução de Jorge Sousa Braga. 

Rapariga Seduzida

Embalou-me - eu era tão inocente -
com vinho e palavras de amor

e todas as juras. Ao acordar
qual não foi a minha surpresa

A seda que cobria os meus seios e o ventre
desaparecera e com ela a minha pureza

Deusa lembra-te que estávamos sós
e ele era forte - e eu tão indefesa


Hedylos, Grécia, séc. II. A.C
Tradução de Jorge Sousa Braga. 

Da Poesia...


      "A poesia não oferece respostas, a poesia não pode apagar o sofrimento, a poesia não trará um ser amado de volta à vida, a poesia não protege do mal, a poesia não nos vinga as vítimas nem castiga os que as vitimam. Tudo o que a poesia pode fazer, e só quando as estrelas são caridosas, é emprestar palavras às nossas perguntas, ecoar o nosso sofrimento, ajuda-nos a recordar os mortos, nomear as obras do mal, ensina-nos a reflectir acerca das consequências da vingança e dos castigos, e também da bondade, mesmo quando essa bondade já não existe. Uma velha oração judaica recorda-nos humildemente: “Senhor, retira a pedra do meio do caminho, para que o ladrão não tropece durante a noite.” 

in Uma História da CuriosidadeAlberto Manguel, edições Tinta da China, 2015.