Eis-nos em Ponta Delgada, a
cidade de Antero de Quental, António Machado Pires, Tomás Borba Vieira, Zeca
Medeiros, entre tantos outros, com o mês de Outubro ainda cheio de gente pelas
ruas, com as lojas do centro a ganhar o colorido da estação outonal, com dias
cada vez mais curtos e sombrios e a temperatura a solicitar outros tecidos,
aquecimentos e agasalhos. O café Caziff, situado na Rua Dr. Guilherme Poças 12,
detém uma pintura de uma deusa na parede, ao que parece pintada em estilo Art Déco por artista conceituado de origem nova-iorquina. É por aqui que se
enceta o périplo citadino. Arrancamos, assim, sem temor à descoberta da luz e das
sombras, à procura de medir o pulso à nova cidade que emerge desde a chegada das companhias aéreas associadas às Low Cost.
A agenda cultural Yuzin está espalhada
pelas mesas deste espaço acolhedor, às vezes café, por vezes bar, propenso a conversas e tertúlias, marcando
desta feita o pontapé de saída e incursão pela cidade em mudança. A loja Louvre
Michalense é visitada com curiosidade, perante um passado que é agora motivo de
delicados e saborosos encantamentos.
Este novo recanto centenário, que já foi chapelaria e loja de tecidos, foi lugar
de exposição do pintor Domingos Rebelo no século passado. Agora é também local
de encontro para pequenos-almoços, lanches e compra de presentes e iguarias de natureza
insular. Entretanto, houve um lançamento na Tipografia Micaelense –“Livro Árvore”,
design de Nuno Malato e Júlia Garcia, pequeno objecto tipográfico no seguimento
de muitos outros que um grupo de designers locais se têm dedicado a fabricar
com materiais de encher olho e com as subtilezas da tipografia antiga. As noites de poesia animam e, de que maneira,
a Tasca da Rua de Lisboa nas noites de quinta-feira, pois por lá marcam
presença Luís Andrade, editor dos “Capítulos A, B e C”- uma colectânea de
poetas a residir nos Açores, ainda o jovem poeta Leonardo, autor do mais
recente Âmbula, título que irá chegar em breve às livrarias nacionais pela Companhia
das Ilhas, e com apresentação pública no final de Outubro, para além de outros
conhecidos divulgadores ou activistas da cultura como João Malaquias ou João da
Ponte. O dono de tão peculiar estabelecimento, Paulo Amado, é visto igualmente
a ler poemas e a participar das sessões, por entre copos de tinto e presunto,
não se esquecendo de arremessar uma ou outra farpa a poeta mais ardiloso. Incansável
tem sido o trabalho da Galeria Arco 8, já com trinta anos no activo e com dez
naquele actual barracão tão pertinho do mar. Há bem pouco foi tempo da dupla de
músicos Medeiros/Lucas apresentar-se na Galeria Arco 8, momento para dar a
conhecer as novas canções destes dois príncipes da Atlântida, desta vez com a
companhia de Tó Trips, estando as paredes revestidas de fotografias da
exposição “Código Postal: A2053N”, código de matrícula do arrastão “Joana
Princesa”, do fotógrafo mariense Pepe Brix. Há poucas semanas estiveram por lá
os músicos Zeca Medeiros e Rafael Carvalho, dois expoentes maiores do melhor
que faz por terras açorianas, no que diz respeito à dicotomia musical entre a
tradição-modernidade. Pedro Bento, responsável pelo Arco8, revela que tudo isto
é feito com pouco ou quase nenhum apoio das entidades regionais. Neste momento,
a fotografia é a rainha da sala de exposições com a reunião de diferentes
autores em mostra designada de “OTIUM”. O Teatro Micaelense conta igualmente
com uma programação profissional e regular, apostando essencialmente em nomes
já afirmados no panorama musical, tendo sido ultimamente possível assistir aos
concertos de Carlos do Carmo, do Sexteto de Jazz de Lisboa ou da açoriana “Bia”.
Nesta incursão pela cidade, com francos sinais de renovação e vitalidade, houve
tempo ainda para assistir na Ermida da Mãe de Deus à peça “A Passagem das Horas”, num
texto de Álvaro de Campos, pela encenação e interpretação do actor Nelson
Cabral. A peça seguiu entretanto para as Ilhas do Faial e Flores.
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Ponta Delgada: cheira a mudança o ar do tempo!
O Doce Canto das Caldeiras
![]() |
A cantora Bia |
Quatro Poemas de Karmelo C. Iribarren
Ya Está
Ya poseemos
casi todo
lo que nos
iba
a hacer
felices
Puede
decirse
que lo hemos
conseguido
Ya está.
Ahora solo
nos queda
comprovar
hasta qué
punto
fuímos
sinceros
conostros
mismos.
Retratos del Poeta Adolescente
Un paquete
de tabaco
un libro de
poemas
cuarenta
duros
para tomar
unas cervezas.
Poca cosa,
es verdade:
pero para mi
era
suficiente.
Y entonces
aparecieron las mujeres.
Conviene no olvidarlo
No hay nada
Grátis. Ni
siquiera
lo que es
grátis es grátis de verdad.
Siempre
te lo
descuentan
de algun
sítio.
Lo Difícil
Enarmorarse
es fácil
Uno pude
enamorarse
-sin
demasiado esfuerzo –
varias veces
al dia,
a nada
que se lo
proponga
y se mueva
un poco por ahí;
y si es
verano,
ni te cuento
Enamorarse
no tiene
maior mérito
Lo realmente
difícil
-no conozco
ningun caso-
Es salir
entero
de una
história de amor.
60 Cêntimos e Pouco Sono
É aqui o fim da noite
crepitam linhas no papel
a insânia do teu esgar
devastado e danoso
como se anunciasse ao longe
o fogo das castanhas de Novembro
Os Dias Normais
Chegam
e vão-se
sem deixar rasto
e tu ficas a vê-los
a afastarem-se sobre os telhados
-e com eles, os anos-
e apenas sentes nada
ou sentes algo, vago,
que não sabes decifrar
são os dias
normais, os de sempre,
os que parecem que passam
à distância,
os assassinos
do amor.
Karmelo C. Iribarren
e vão-se
sem deixar rasto
e tu ficas a vê-los
a afastarem-se sobre os telhados
-e com eles, os anos-
e apenas sentes nada
ou sentes algo, vago,
que não sabes decifrar
são os dias
normais, os de sempre,
os que parecem que passam
à distância,
os assassinos
do amor.
Karmelo C. Iribarren
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