segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Miguel Gonçalves Mendes: Cinema Instigação!


         Organizado pela Galeria Arco 8, terminou na última quinta-feira um ciclo de cinema dedicado a Miguel Gonçalves Mendes. Os seus documentários foram sendo exibidos ao longo de três semanas deste recente mês de Setembro e sempre com entrada gratuita. O ciclo começou com “Nada Tenho de Meu”, seguindo-se “Cruzeiro Seixas: Cartas do Rei Artur” (aqui enquanto produtor), depois “Autografia” e, por fim, “José e Pilar”. Estes dois últimos filmes apresentados e, que tiveram lugar na passada quarta e quinta-feira, contaram com a presença do realizador que acedeu conversar e acolher perguntas duma vasta e interessada audiência que aproveitou a presença deste em território insular. Sendo assim, uma palavra de apreço e gratidão para o Pedro Bento, sempre ele, a pontuar a chamada “actividade cultural alternativa do Outono”, marcando assim a rentrée da ilha e anunciando a partida do estio de calendário, ainda que este tarde em arrefecer. Graças a ele, e à sua persistência, foi mais uma vez possível ver cinema de cariz documental e, essencialmente, instigante!
Registe-se, assim, que todo o trabalho documental visa dar conta do objecto em questão e aproximar esse mesmo objecto do público espectador. Estes filmes não só aproximaram como também promoveram o pensamento sobre aquilo que somos e andamos à procura. Comece-se pelo inquietante “Nada Tenho de Meu”, que nos pareceu ser o trabalho mais complexo dado tratar-se de uma procura da identidade individual e do real, sabendo de antemão que grande parte do que contamos sobre nós próprios há muito de inventado, ficcionado. Seguiu-se “Cruzeiro Seixas: Cartas do Rei Artur”, documentário revelador de uma paixão entre essas duas figuras maiores do surrealismo, amantes  das pintura e das letras, aqui revelado em registo epistolar e intimista. Nada que já não tivéssemos sondando no visionamento de “Autografia”, apresentado algum tempo antes e ao que se sabe um retrato livre e despojado da vida dum poeta maior da língua portuguesa, infelizmente já desaparecido: Mário Cesariny. Neste documentário vemos a importância da confiança e da liberdade discursiva criada entre quem filma e se deixa filmar. Por último, o visionamento de “José e Pilar” que são três actos de amor em conjunto, um olhar errante e exaustivo sobre uma relação a dois, o poder e a força impressa no outro por quem sabe que só o amor nos leva pela estrada mais directa ao coração. Sim, é verdade, aqui vemos um homem que escreve novelas e uma mulher que se dedica a tomar conta da vida deles os dois. Uma experiência intensa, de tão rica como imaginada, ao intuir o movimento realizado inicialmente até o sabermos, por fim, concluído.
No final de todas as sessões, ficámos a saber que Miguel Gonçalves Mendes já encerrou as filmagens do seu documentário, “O Sentido da Vida”, produzido por Fernando Meirelles, encontrando-se agora em fase de montagem. As filmagens duraram quatro anos e o filme foi rodado na Islândia, Brasil, Macau, tendo começado em Vila do Conde. Assim o possamos rapidamente ver tal qual esperemos que seja mais uma razão para que, à semelhança dos sete ilustres convidados presentes na narrativa, o realizador possa continuar a dar a conhecer o seu trabalho e, assim, regressar ao arquipélago açoriano.