domingo, 21 de julho de 2013
Do Estio...
Era Julho e à semelhança das cigarras ninguém dormia. O cabelo doirado das mulheres lembra-me agora a infância deitado ao sol sobre os barcos, um clarão de luz a incidir sobre a merenda, os cães a rondar a areia e um cheiro intenso de salitre com o estender das algas e sargaço a serpentear a orla. Não havia sono mas sim desenhos com giz sobre a lousa ou sobre a areia e os amigos que se sentavam em redor à volta da canícula, ansiando o toque e afago das mães que se tinham retirado e ausentado por instantes para o recolher da faina e dos maridos.
Doravante o sol
Doravante o
sol o céu o sal
o tempo a escoar pelas marés
voa um
garajau como se ganhasse
às nuvens de
passagem o vagar
caí refeito verticalmente
num tempo
outro a restaurar
o nosso
enredo reescrito
rodopio constante irrequieto
desejo
conspirativo em movimento
a harmonia secreta das espumas
o horizonte
com linha a desvanecer
o brilho e o
branco dos casarios
e o mar chão que
nem um barco vislumbra
ali onde a cor
da luz se agiganta.Belarmino vs Linda Martini
-Após a banda sonora do Manuel Jorge Veloso, do poema do
Alexandre O’Neill (Belarmino - Amigos Pensados”) e deste vosso tema, é caso
para dizer que nunca um filme em Portugal gerou tanto entusiasmo e fulgor
criativo. Qual é a vossa opinião sobre o filme enquanto expressão de um certo
espelho lusitano?
-André: O filme é ainda hoje uma referência e à época foi uma pedrada no charco do cinema português. Está ali num limbo entre a ficção e o documentário que me agrada muito. É sem dúvida um espelho da época. Dá para ver toda a gente a olhar para o chão metido dentro das suas vidas e dos seus casacos. O Belarmino acaba por contrastar no meio daquilo tudo com aquele ar gingão e aquela pose de malandro.
Entrevista dos Linda Martini ao Boletim Cultural Fazendo nº 48(https://issuu.com/fazendofazendo) (29 de Outubro a 11 de Novembro de 2010).
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