O Mercado da Graça,
em Ponta Delgada, abre portas muito cedo, por volta das sete horas da manhã,
repetindo o mesmo horário até quinta-feira, encerrando nestes dias às seis da
tarde. Nos dias de sexta e sábado este lugar de comércio é apenas reservado às
manhãs, pois fecha às duas da tarde e, como encerra aos domingos, tem essa
particularidade de concentrar as compras numa parte do dia. O melhor é começar
as compras bem cedo.
Logo à entrada do mercado, devemos
exercitar o sentido do olfacto, já que acreditamos não ser possível usar o
paladar, exercitemos, portanto, o exalar de aromas e cheiros dos produtos da
terra que lá se encontram, provenientes dos mais diferentes lugares da ilha
verde. Esse sentido deve vir, portanto, muito antes da visão, já que muitas
vezes a aparência e colorido dos respectivos víveres, não é atributo de odor
exuberante e frescura, por isso convirá meter a mão e o nariz onde se é
chamado, sem abusar, claro. A verdade é
que muitos de nós acordamos com ansias e desejos de artigos frescos, coisas
boas e tenras, sobretudo deliciosas para comer ou ter por perto, se possível,
muito, muito saborosas. É, sem dúvida, zeloso e bastante cuidadoso da nossa
parte ir ao encontro das delícias e paladares que a nossa terra e mar dão, a
exigência obrigatória de qualidade alimentar, bem longe dos plásticos e demais
embalagens poluentes, ainda com a vantagem de se poder aprender sobre o tempo das
colheitas e abordar a meteorologia de forma provisória e descomprometida, à boa maneira açoriana.
É ali, na freguesia
de São Pedro, num edifício que remonta a meados do século XIX, que se
concentram os vendedores habituais, as pessoas que fazem e vivem aquele
quotidiano enquanto comerciantes e vendedores de produtos locais. Por vezes,
simpáticos, muitas vezes cansados com as agruras de um dia-a-dia árduo e nem
sempre dispostos a tolerar clientes inquisitivos e impacientes. No entanto, por
vezes, é deveras surpreendente a alegria permanente que se vislumbra num lugar
como este, sabendo nós de histórias de sacrifício e obstáculos que existem por
detrás daquelas existências. O sítio é, pois, propício à policromia em qualquer
altura do ano, com uma pletora de cores que os frutos, vegetais e flores lhe
confere. Na visita a realizar não podemos
descurar a compra dos produtos que a terra açoriana nos dá: inhame, pimenta da
terra, batata doce, anonas, araçás, goiabas (quando é o tempo delas, claro),
ainda o famoso ananás e, claro, há também por lá um cantinho dedicado aos
queijos oriundos de todo o arquipélago que, como podem imaginar, são um
verdadeiro comprazimento. Bem lá no fundo do mercado, há também a peixaria,
sendo razão de sobra para aí encontrar e indagar a origem dos peixes do mar
profundo do Atlântico, deparar-nos assim com o peixão, veja, boca negra, espadarte,
alfonsim, imperador, bodião, bonito, congro, chicharro (no continente, o jaquinzinho) e
ainda o polvo, que dali passarão a ser as verdadeiras atracções da restauração
local.
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