Amanhã que é quarta-feira
Douta Melancolia
"C’è la stessa malinconia e la stessa speranza" Vittorio Lega
terça-feira, 5 de novembro de 2024
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Música para Recomendar Novembro
Agricultura
domingo, 3 de novembro de 2024
Sobreiro (Quercus suber)
As Coisas Fora do Lugar de José Alberto Oliveira
a boca desampara o segredo de um desejo
que o olhar nega; noites rasuradas,
que as coisas desejaram, por fora do lugar
comporem outra ordem que tememos.
sábado, 2 de novembro de 2024
Cerejeira (Prunus x Yedoensis)
Ilustração de Francisco Eduardo |
in "As Árvores Não Têm Pernas para Andar" de Joana Gama, ilustrações de Francisco Eduardo e música original de João Godinho.
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Astrakan 79: Entre a Memória e a Fábula
Fuso Insular: As Voltas da Memória!
Terminou
este domingo a 6ª edição do Fuso Insular no Centro de Artes Contemporâneas, na
Ribeira Grande. O fim de tarde de sábado serviu para mostrar os vídeos
realizados durante os três meses de verão na residência criativa, frequentada
por criadores a viver no arquipélago açoriano. No total, foram 7 os vídeos
apresentados, revelando cada um deles ansiedade em mostrar o resultado final neste
encontro anual no Centro de Artes contemporâneas.
À
pergunta: o que fazer durante o verão açoriano? Os participantes do Fuso
Insular, uma residência artística ligada às imagens em movimento, tiveram encontros
semanais, delinearam ideias e argumentos, conceberam guiões e passaram para a captação e recolha de
imagens e de sons. Tudo isto durante o abafadíssimo estio açoriano, com um
orçamento residual e sem grandes recursos ou meios técnicos. Após reunirem o
seu material e imagens, juntaram-nas e desataram a contar as suas histórias e
“narrativas visuais”. Qual é a novidade, então, do Fuso Insular? É, essencialmente, o
processo colaborativo entre os participantes e os formadores presentes,
designadamente: André Laranjinha, Rachel Korman e Catarina Mourão. O Centro de
Artes Contemporâneas cumpre aqui também uma das suas funções: promover e
difundir a realização de obras de arte de criativos residentes nos Açores. É dentro deste
esforço conjunto que se preparam estas apresentações públicas, realizando uma
sessão própria para a apresentação destes objetos artísticos ao público.
Assim, na tarde de sábado, dia 26,
foram sete as obras apresentadas, cerca de sessenta minutos no total, tendo a
sessão começado com o filme de Catarina Fernandes - “Ainda Bem que a Lua
Existe”, uma narrativa afetiva envolvendo a sua memória pessoal e a sua
ligação à mãe, um gesto de afeto carregado de sonhos, lembranças e canções
pessoais. Seguiu-se “O Lado Sombra”, de Sandra Medeiros, um objeto
fílmico sobre a invisibilidade, o reconhecimento de um corpo e das suas sombras, e ainda tudo o
que guardamos cá dentro e queremos ocultar, na realidade um trabalho intenso,
muito bem elaborado. Acompanhámos depois "Tudo Está em Tudo”, de
Maria Emanuel Albergaria e que nos trouxe a vida vegetal e o envelhecimento sob
a forma de cores fortes e intensas, vislumbrando a transformação que o tempo
exerce sobre a existência. Quanto ao filme “De Marfim, Com Amor”, de Ana
Cabral, este transporta-nos para um corpo de memórias fragmentadas, com objetos
herdados de avós que nunca conheceu, questionando o seu legado no presente, numa
visão final que comporta o regresso a uma lembrança uterina. Depois, seguiu-se a proposta do coletivo Atelineiras,
intitulado de “Ao Redor”, que consistiu na composição dum herbário
construído, a recolha de plantas existentes na paisagem açoriana, jogando
assim de forma dialética entre as “invasoras” e “endémicas”, como se as
palavras se pudessem encontrar o dentro e o fora dessa diversidade. Continuamos,
ainda, com “Migratórios”, Willian da Fonseca, um objeto que mergulha de filmar a travessia, a aventura migrante, ou a metáfora de uma imersão na liquidez e
magma insular, interrogando as memórias que as águas carregam e as formas de
nos relacionarmos com as misturas, o abraçar de novas crenças e fusões. A sessão
fechou com “Movimentos”, de Maria João Sousa, um exercício sobre as
deslocações humanas, podendo nós, espectadores, interpretar e decifrar os
seus movimentos, o seu rastro e lastro na atmosfera, no espaço e no tempo, num
registo bem-humorado.
Nota final ainda para referir que,
devido ao facto de estarmos perante uma residência criativa de curta duração, muitos dos
trabalhos do Fuso Insular revelam, na sua maioria, um pendor autobiográfico,
tendo muitos deles o território açoriano como denominador comum. São, pois,
raros os trabalhos ficcionais, ou de carácter etnográfico, muito embora seja
sempre entusiasmante assistir a cada conjunto destes filmes e percebermos o
quão diferentes somos na absorção desta nossa experiência insular.
"Partias o Mar aos Joelhos"*
Fotografia Ana Monteiro |
Podemos ser autênticos na análise, já que logramos acreditar na geografia, na história e no tempo longo que marca esta nossa ligação. Sabemos desde sempre da existência dessa paixão, muita dela transmitida pelos nossos progenitores, familiares, dado que foram eles que nos concederam esse legado, essa herança, numa transmissão feita de muitos temores, dores e sacrifícios até.
Crescemos também a pensar que podíamos ter uma relação mais suave, mais intensa e prazenteira nessa aproximação ao mar. Certo ainda é que vamos acumulando poemas, canções, filmes, e até mesmo peças de teatro ou romances que falam dessa força da natureza. Há também quem pense que essa paixão, ou melhor, esse amor, em termos artísticos, ainda não é suficiente. Será?
Ilhéus de António Cícero
imponderável como as nuvens,
e cair no dia feito um véu
ou a tampa de um ataúde.
e nada impede que se afundem
neo-atlânticas e arranha-céus
ou que nossas cidades-luzes
submersas se tornem mausoléus.
em arquipélagos, os ilhéus
pisarão ruínas ao lume
do mar, maravilhados e incréus
e devotados a insolúveis
questões, espuma, areia, fúteis
e ardentes caminhadas ao léu.