segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Música para Recomendar Novembro

-My Follish Heart - Waltz for Debby, 1962 - Bill Evans Trio 
-Farmer in the city - Tilt, 1995 - Scott Walker 
-El lado más Bestia de la Vida - Suppone a Fonollosa,1995- Albert Pla 
-The Weeping Song - The Good Son, 1990 - Nick Cave 
-Famous Blue Raincoat - Songs of Love and Hate, 1970 - Leonard Cohen 
-Satelite of Love - Transformer, 1973 - Lou Reed 
-Songs to the Siren - The Dreams Belong to Me, 1968 -1973- Tim Buckley 
-Time Raindogs, 1985 - Tom Waits 
-Winston Churchil´s Boy - At Least For Now, 2015 - Benjamin Clementine
-The Ribbon - Cavalo, 2013 - Rodrigo Amarante 
-Searching for Mr. Right - Colossal Youth, 1980 - Young Marble Giants 
-Winter - Schock of Daylight & Heads and Hearts, 1996 - The Sound 
-Sping Rain - Liberty Belle and Black Diamond Express, 1986 - The Go Betweens 
-Sketch For Winter - The Return of Duruti Collumn, 1981 - The Duruti Collumn

Agricultura

     "Os pomares dever ser estercados no Crescente e podados no Minguante, devendo protegê-los das geadas. Plantar cerejeiras, pessegueiros, pereiras e macieiras, no Crescente."
in Borda D´Água, Editorial Minerva, 2023. 

domingo, 3 de novembro de 2024

XV Festival Curta Açores

Programa do XV Festival Curta Açores 
Ribeira Grande 
4 a 9 de Novembro de 2024 
Clicar na Imagem
 

Sobreiro (Quercus suber)







        "É a árvore nacional de Portugal. O sobreiro mais antigo do mundo, plantado em 1783, fica em Águas de Moura. Chama-se Sobreiro Assobiador e em 2018 ganhou o título de "Árvore Europeia do Ano". A partir da casca do sobreiro obtém-se a cortiça, material resistente usado para vários fins, nomeadamente para a produção de rolhas. Mas o mais incrível é a cortiça ter sido usada na construção da Apollo 11, a primeira nave espacial a chegar à lua."
in "As Árvores Não Têm Pernas para Andar" de Joana Gama, ilustrações de Francisco Eduardo e música original de João Godinho














As Coisas Fora do Lugar de José Alberto Oliveira

A ausência medida neste rosto humano,
a boca desampara o segredo de um desejo 
que o olhar nega; noites rasuradas,

aflitas e sem partilha, no pendor torpe
que as coisas desejaram, por fora do lugar
comporem outra ordem que tememos.
 

in "O que Vai Acontecer", Assírio e Alvim, 1997.

XV Festival Curta Açores

De 4 a 9 de Novembro
Teatro Ribeiragrandense 






Ontem, escrito numa parede da cidade

 É mais arenga do que arenque

sábado, 2 de novembro de 2024

Cerejeira (Prunus x Yedoensis)

Ilustração de Francisco Eduardo 
   "É a árvore nacional do Japão. Em japonês, diz-se sakura. Nem todas as cerejeiras dão cerejas, mas todos os anos os japoneses fazem piqueniques nos parques para admirarem as cerejeiras em flor. Essa festa chama-se Hanami. As belas flores de laranjeira, que podem mudar de cor aos longo dos dias, duram muito pouco tempo. São por isso, um símbolo do Mono no Aware, uma certa melancolia associada à consciência de que tudo é efémero.

in "As Árvores Não Têm Pernas para Andar" de Joana Gama, ilustrações de Francisco Eduardo e música original de João Godinho.  

Provérbio

 Depois dos Santos, neve nos campos.
in Borda D´Água , Editorial Minerva, 2023. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Astrakan 79: Entre a Memória e a Fábula

   “Astrakan 79” é uma valente e agradável surpresa! Ainda não se sabia nada sobre o que se passava para lá da cortina de ferro, a Guerra Fria fazia o seu caminho ao impedir-nos de tomar contacto com essa realidade e do que existia para lá do Muro de Berlim, por isso viajávamos e vivíamos a ideologia sem saber muitas coisas. Quase nada. Pobres jovens politizados! Havia também quem alimentasse o sonho duma sociedade perfeita proveniente do Leste Europeu e dos respetivos amanhãs que cantavam. Entretanto, chegavam as primeiras experiências dos que lá tinham estado, mas havia sempre também quem desvirtuasse o conteúdo das afirmações de quem lá tinha andado.Inclusive, alguém que afirmasse a pés juntos que a propaganda ocidental era mais forte do que aquela que era alimentada pelo bloco socialista. 
Ver “Astrakan 79” é ser surpreendido pela sua sinceridade, até pela sua vontade em ficcionar um acontecimento marcante de uma pessoa como o Martim Santa Rita. Este trabalho sobre uma viagem de há quarenta anos à URSS, aliás, como qualquer trabalhando documental, é a constatação e evidência que neste processo há sempre uma boa parte de construção e efabulação. Sim, sabendo nós que a memória é uma construção contínua, incapaz de ser imune a qualquer reabilitação de factos e narrativas, como poderemos nós acreditar em factos vividos há largas décadas? Vemos, assim, Martim recordar na actualidade, isto é, com 58 anos, o período em que esteve na União Soviética, cerca de ano e meio, com 15 anos de idade. Os pais, militantes do Partido Comunista, viram com bons olhos a partida de Martim para o reino dos sovietes, augurando um futuro radioso junto de uma sociedade dita segura, com a promessa do cumprimento dos nobres ideais de uma sociedade socialista avançada. Durante ano e meio, Martim viveu na sociedade soviética as dificuldades de assimilação de uma cultura diferente, com os problemas inerentes à sua juventude: as paixões, os amores, a rebeldia, tudo foi possível experimentar, inclusive, a clandestinidade e a rebeldia. O dito "fracasso" ficou guardado na memória este tempo todo.
Daí o momento fulcral na "compreensão" deste documentário é o encontro no final entre pai e filho, quatro décadas depois daquela viagem iniciática. O filho, Mateus Santa Rita, tocador do som do mais grave dos instrumentos de sopro - o fagote - agradece o gesto e continua o legado, sabendo nós que qualquer escolha que façamos nunca é em vão ou que continua a ser fácil. A Olaria e a Música que o digam!

Fuso Insular: As Voltas da Memória!

      Terminou este domingo a 6ª edição do Fuso Insular no Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande. O fim de tarde de sábado serviu para mostrar os vídeos realizados durante os três meses de verão na residência criativa, frequentada por criadores a viver no arquipélago açoriano. No total, foram 7 os vídeos apresentados, revelando cada um deles ansiedade em mostrar o resultado final neste encontro anual no Centro de Artes contemporâneas. 
         À pergunta: o que fazer durante o verão açoriano? Os participantes do Fuso Insular, uma residência artística ligada às imagens em movimento, tiveram encontros semanais, delinearam ideias e argumentos, conceberam guiões e passaram para a captação e recolha de imagens e de sons. Tudo isto durante o abafadíssimo estio açoriano, com um orçamento residual e sem grandes recursos ou meios técnicos. Após reunirem o seu material e imagens, juntaram-nas e desataram a contar as suas histórias e “narrativas visuais”. Qual é a novidade, então, do Fuso Insular? É, essencialmente, o processo colaborativo entre os participantes e os formadores presentes, designadamente: André Laranjinha, Rachel Korman e Catarina Mourão. O Centro de Artes Contemporâneas cumpre aqui também uma das suas funções: promover e difundir a realização de obras de arte de criativos residentes nos Açores. É dentro deste esforço conjunto que se preparam estas apresentações públicas, realizando uma sessão própria para a apresentação destes objetos artísticos ao público.
       Assim, na tarde de sábado, dia 26, foram sete as obras apresentadas, cerca de sessenta minutos no total, tendo a sessão começado com o filme de Catarina Fernandes - “Ainda Bem que a Lua Existe”, uma narrativa afetiva envolvendo a sua memória pessoal e a sua ligação à mãe, um gesto de afeto carregado de sonhos, lembranças e canções pessoais. Seguiu-se “O Lado Sombra”, de Sandra Medeiros, um objeto fílmico sobre a invisibilidade, o reconhecimento de um corpo e das suas sombras, e ainda tudo o que guardamos cá dentro e queremos ocultar, na realidade um trabalho intenso, muito bem elaborado. Acompanhámos depois "Tudo Está em Tudo”, de Maria Emanuel Albergaria e que nos trouxe a vida vegetal e o envelhecimento sob a forma de cores fortes e intensas, vislumbrando a transformação que o tempo exerce sobre a existência. Quanto ao filme “De Marfim, Com Amor”, de Ana Cabral, este transporta-nos para um corpo de memórias fragmentadas, com objetos herdados de avós que nunca conheceu, questionando o seu legado no presente, numa visão final que comporta o regresso a uma lembrança uterina.  Depois, seguiu-se a proposta do coletivo Atelineiras, intitulado de “Ao Redor”, que consistiu na composição dum herbário construído, a recolha de plantas existentes na paisagem açoriana, jogando assim de forma dialética entre as “invasoras” e “endémicas”, como se as palavras se pudessem encontrar o dentro e o fora dessa diversidade. Continuamos, ainda, com “Migratórios”, Willian da Fonseca, um objeto que mergulha de filmar a travessia, a aventura migrante, ou a metáfora de uma imersão na liquidez e magma insular, interrogando as memórias que as águas carregam e as formas de nos relacionarmos com as misturas, o abraçar de novas crenças e fusões. A sessão fechou com “Movimentos”, de Maria João Sousa, um exercício sobre as deslocações humanas, podendo nós, espectadores, interpretar e decifrar os seus movimentos, o seu rastro e lastro na atmosfera, no espaço e no tempo, num registo bem-humorado.
         Nota final ainda para referir que, devido ao facto de estarmos perante uma residência criativa de curta duração, muitos dos trabalhos do Fuso Insular revelam, na sua maioria, um pendor autobiográfico, tendo muitos deles o território açoriano como denominador comum. São, pois, raros os trabalhos ficcionais, ou de carácter etnográfico, muito embora seja sempre entusiasmante assistir a cada conjunto destes filmes e percebermos o quão diferentes somos na absorção desta nossa experiência insular.

"Partias o Mar aos Joelhos"*

Fotografia Ana Monteiro 

     Podemos ser autênticos na análise, já que logramos acreditar na geografia, na história e no tempo longo que marca esta nossa ligação. Sabemos desde sempre da existência dessa paixão, muita dela transmitida pelos nossos progenitores, familiares,  dado que foram eles que nos concederam esse legado, essa herança, numa transmissão feita de muitos temores, dores e sacrifícios até. 
       Crescemos também a pensar que podíamos ter uma relação mais suave, mais intensa e prazenteira nessa aproximação ao mar. Certo ainda é que vamos acumulando poemas, canções, filmes, e até mesmo peças de teatro ou romances que falam dessa força da natureza. Há também quem pense que essa paixão, ou melhor, esse amor, em termos artísticos, ainda não é suficiente. Será? 
Escreveu, por isso, há dias, Nuno Pacheco, no jornal Público que “são meros e escassos exemplos num verdadeiro oceano de obras onde o mar, e em vários casos, também a pesca foram essencial inspiração”. Será que não conseguimos, à semelhança de outros povos (evoco aqui Bretanha, a Irlanda, ou mesmo França) de vivenciar/experienciar essa paixão de forma avassaladora ou tão  real tcomo acontece nesses territórios? É que seria tão  bom começar a partir o mar aos joelhos!!!

Ilhéus de António Cícero

uma onda pode vir do céu,
imponderável como as nuvens,
e cair no dia feito um véu
ou a tampa de um ataúde.
e nada impede que se afundem
neo-atlânticas e arranha-céus
ou que nossas cidades-luzes
submersas se tornem mausoléus.
em arquipélagos, os ilhéus
pisarão ruínas ao lume
do mar, maravilhados e incréus
e devotados a insolúveis
questões, espuma, areia, fúteis
e ardentes caminhadas ao léu.
 
                in A Cidade e os Livros, Rio de Janeiro, Record, 2002