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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Melancolia do Fim de Agosto

      Há um travo amargo quando Agosto termina, quando nos despedimos deste mês consagrado à lassitude e às cigarras. A rapidez com que este mês da canícula passa sobre nós é equivalente aos novos TGV. Por isso, quando atingimos os seus últimos dias avança sobre os corpos uma nostalgia que nos esmaga, tolhe o raciocínio, trava qualquer racionalidade. É, pois, uma despedida pesada, carregada de tristeza e sentimentos de culpa, sobretudo, por tudo o que ficou por fazer, as promessas por cumprir, os desejos por concretizar. Setembro fará depois o seu trabalho e, quando o Outono de calendário se enunciar, novos sinais de enfrentamento tornaremos claros, se assim o quisermos. 
       Desta feita, nada é mais desolador que o fim de Agosto, os seus despojos e sedimentos, o que ainda resta da voragem do tempo sobre a estação estival. Este começa sempre por afigurar-se prometedor - os seus dias longos e claros - até à contrariedade das manhãs de neblina e das noites carregadas de cacimba, nada se apresenta tão pesado e sombrio como os seus derradeiros dias. Nada nos resta senão fruir com sabedoria esta pequenina fracção deste Agosto por encerrar. Será isso a douta melancolia?

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Enfim...a Canícula!

        O calor abafado, enfim, voltou. A água salgada do mar faz o seu vaivém nas praias de areia preta que, entretanto, amornam e, com as temperaturas do ar cálidas, retornam também os garajaus, essas andorinhas insulares que nos devolvem a visão do seu voo e beleza.
       Abandono, assim, mais uma casa, aquele quarto, mais uma morada (quantas moradas? quinze, vinte?), permaneço com os nomes de bairros e ruas gravado na memória – Casal de Malta, Canal, Calouste Gulbenkian, Jogo da Bola, Senhora do Almurtão, Barão de Roches, Miragaia, D´Agoa, Guilherme Poças Falcão, Laureano, Rua Nova da Misericórdia, Gaspar Fructuoso, Ladeira das Águas Quentes, Pópulo Pequeno, Livramento, etc…a convicção também de que em breve irei encontrar outro destino, outros olhares, novas memórias.
 Todos os verões, eis que regresso às águas gélidas que povoam a minha infância e adolescência, torno às sessões de cineclube às quintas-feiras e aos filmes ao ar livre na cidade vizinha, cidade onde procuro em vão a professora F. – ensinou-me a língua francesa apenas com o seu sorriso – ou visito, quando posso para uma longa charla, a professora M., de Filosofia, tal como ainda provisiono uma ou várias barrigadas de sardinhas para o jejum insular que se seguirá.
         Proclamo, por agora, um até já às minha coisas e às que julgo pertencer, despeço-me dos locais onde repousei o olhar, abraço as pessoas que conheci e as outras tantas que gostei de conhecer. Interrompo, entretanto, as conversas com os mais próximos com quem conversei, relembro os momentos partilhados, os bons e os maus. Aproveito para implorar absolvição pelas ocasiões em que excedi a sua paciência quando exalto o prazer no presente ou a existência de melhores dias vindoiros. Não me canso de referir o peso de que somos feitos, este desconsolo que nos tolhe os movimentos, inclusive, a melancolia a escrever, tão implicada de dor e culpa, e que vejo entrar quarta invasão francesa, já enunciava o Alexandre O´Neill, com assertividade e sem ela. Um poeta maior que nos abandonou em Agosto, pois já não conseguia contrariar o vento, a morrinha, a nortada. E que frequentemente tropeçava de ternura…