tecidas
num esvoaçar de sons
o gesto último
de querer prender à terra toda a sua vida
brota um crepúsculo de flores esmagadas
Todos os anos, quando a permanência no interior das casas se torna insustentável, dou por mim a imaginar a programação de sessões de cinema ao ar livre, isto é, a propor à minha freguesia de bairro uma selecção de filmes que primem pela qualidade narrativa, uma banda sonora irrepreensível, boa cadência e ritmo cinematográfico. É claro que não posso descurar que haja uma boa amplificação do som e que estejamos todos bem sentados. Assim, será uma boa sessão de cinema ao ar livre em que nada possa ficar de fora. Então, a sessão inaugural teria o filme de Emir Kusturica, Gato Preto, Gato Branco, realizado em 1998. Pela película andam ciganos que habitam nas margens do Danúbio, os seus negócios mal afamados com os russos, desvios de comboios com gasolina de Belgrado com destino à Turquia, uma atiradora furtiva que atira aos barcos sobre as águas e ainda Dadan, o patriarca da comunidade que possui um harém. Enfim, a desbunda típica dos filmes de Kusturica com muita música e charangas à mistura.
"O problema não é a escassez de camas ou profissionais. É a ausência de políticas públicas com rosto humano. Falta-nos saúde de proximidade, apoio social continuado, articulação entre as instituições. As autarquias sabem quem são, onde vivem, o que precisam, mas não têm meios para intervir. O Estado empurra para o terceiro sector, que responde como pode, muitas vezes com boa vontade, mas com meios limitados e serviços inconsistentes. A caridade não pode substituir o que é - deve ser - público."
João Mendes Coelho, médico-psiquiatra, in Açoriano Oriental, dia 29 de Junho de 2025.
in A Nuvem Prateada das Pessoas Graves, Quasi Edições, Março de 2005.
in O Virgem Negra, Assírio&Alvim, 1989
in O Poeta Nu, 2014.
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Cartaz daqui: http://www.cinemadg.com |